Empresas lançam aviões sem piloto, bombas guiadas e mísseis

por Roberto Godoy

Aviões sem piloto para missões de vigilância – e de ataque – em voos de 15 horas; bombas guiadas que podem ser lançadas a 20 quilômetros do alvo; mísseis capazes de cobrir 300 quilômetros para despejar uma grossa chuva de fogo sobre o objetivo. O erro máximo é de 6 metros.

O primeiro pacote de armas inteligentes da indústria brasileira de sistemas de Defesa está entrando no catálogo de três diferentes empresas, Avibrás Aeroespacial, Britanite IBQ Ltdª e Mectron Engenharia. Os projetos são independentes.

A proposta mais recente envolve Britanite e Mectron, organizações cheias de segredos. A feira LAAD, realizada no Rio há dois meses, serviu para a apresentação das maquetes do kit de guiagem SMK, criado no Comando Tecnológico da Aeronáutica (CTA), de São José dos Campos, e entregue ao setor privado para desenvolvimento.

O equipamento, adaptável a bombas de 250 e 500 quilos, utiliza um sistema inercial de navegação. Recebe ainda o sinal das redes GPS, americana, e Glonass, da Rússia. O benefício é o aumento do alcance e a preservação da performance sob condições climáticas adversas.

Não há ligação física entre o avião lançador e a bomba no fornecimento de dados de orientação até o impacto final. As principais aeronaves da frota de combate da aviação militar do Brasil – o F-5EM, o AMX, o Super Tucano, e com certeza o futuro caça F-X2 – tem provisão para levar arma. Não há informação oficial sobre o programa. Os testes e provas de qualificação, a princípio, seriam iniciados em 2010. As empresas não comentam. O CTA não confirma.

De olho no mar

Na sede do maior grupo de equipamentos militares do País, a Avibrás Aeroespacial, de São José dos Campos, “o núcleo duro de competência da empresa”, como é definida pelo presidente Sammi Hassuani a equipe de engenheiros responsável pela manutenção dos novos projetos industriais, comemorava a aprovação da proposta de construção do Veículo Aéreo não Tripulado, o VANT.

O programa custará, até o lote cabeça de série, a quantia de R$ 27 milhões, parte do governo e parte da própria Avibrás. O resultado, esperado em 2011, é um avião sem piloto, autonomia de 15 horas, carga útil de 150 quilos, alcance de 150 quilômetros e teto de 4,5 mil metros. “Será a primeira geração de uma família que já tem até a segunda geração definida, com capacidade de 25 horas contínuas no ar, alcance de 500 quilômetros e meia tonelada de carga”, destaca Hassuani.

Os dois modelos poderão ser carregados com mísseis leves “ou com outra novidade da empresa, a versão de guiagem primária do foguete Skyfire-70 dotado de ogiva de seis quilos”. A arma é eficiente contra caminhões semiblindados. “Ainda é cara, coisa de US$ 20 mil dólares, e estamos trabalhando para reduzir esse preço até os padrões do mercado”, diz.

No arquivo de projetos à espera de investimentos, a Avibrás – que está sob regime de recuperação judicial, do qual Sammi espera sair antes do prazo, no inicio de 2010 – estão os kits de bombas inteligentes. O projeto foi iniciado em 2002. O mercado internacional estimado é de 50 mil unidades a cada três anos e a US$ 21 mil cada. O equipamento da Avibrás permite bombardeio de precisão de 12 metros depois do lançamento por um caça AMX e de um voo planado de 20 quilômetros. Um processador de informações é montado na ponta da bomba e um conjunto de aletas móveis na seção traseira. “O produto é a consequência da gestão do conhecimento avançado em áreas como os algoritmos de voo, aerodinâmica e química”, afirma o Hassuani.

A mesma abordagem está sendo dada a um ambicioso programa destinado, por exemplo, a integrar o elo do Exército na defesa dos interesses na plataforma continental, jazidas do pré-sal e toda a rede de plataformas marítimas da Petrobrás. O míssil de cruzeiro leve TM, revelado em 2001, é a versão local de uma classe de arma guiada criada com a meta no baixo custo. A versão brasileira atua entre 150 e 300 quilômetros. Pode ser disparada do solo por carretas padrão do sistema Astros-II ou embarcada em caça bombardeiro.

A proposta de Hassuani é empregar mísseis em baterias de até seis veículos, dois a dois, totalizando 12 vetores. O TM é de calibrec 450 mm, e cobre alvos de 120 a 300 quilômetros (veja gráfico). Distribuídos ao longo dos pontos estratégicos do litoral, podem levar fogo rápido e intenso sobre conjunto de embarcações que pretenda, por exemplo, tomar instalações da rede de exploração de petróleo. O investimento, de longo prazo, chega a R$ 1 bilhão.

FONTE: O Estado de São Paulo 18.06.09

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Hornet
Hornet
14 anos atrás

o Godoy fez uma bom resumo do assunto. Muitas dessas notícias haviam sido dadas de forma pontual, mas ele fez um apanhado geral da coisa toda e ficou muito bom o texto, muito esclarecedor do que está se fazendo no Brasil atual.

Acho que o processo de reativamento da nossa indústria de defesa já está encaminhado…nem é algo para ser feito daqui um tempo…já está ocorrendo. O que é um ótima notícia, tanto para a defesa, como para a C&T e para a economia do país. O caminho é esse mesmo.

abraços a todos

Vassili
Vassili
14 anos atrás

Seria mesmo o renascimento do Matador?????????????????

Tomara que sim, como tb torço para que a Indústria de Defesa tupiniquim volte à florescer, como nos anos 80.

abraços

Igo
Igo
14 anos atrás

O problema do matador será a concorrência do míssil da Britanite/Mectron.

Bosco
Bosco
14 anos atrás

Sem querer ser do contra, mas pra mim é tudo lorota. Jornalismo sem pé nem cabeça. Sem nexo e totalmente desconexo. Nenhuma informação objetiva. Tudo no “vamo vê”. Não acrescentou nadica de nada. Não gosto de ir contra a opinião de muitos companheiros, principalmente do nível do Vassili e do amigo Hornet, mas pra mim não passa de uma matéria sem compromisso do Godoy. Também não dou muito crédito a nossa indústria de defesa desde que quando era garoto vi que estávamos prestes a desenvolver um míssil anti-tanque. Já se passaram uns 20 anos e até hoje nada. Não me… Read more »

Hornet
Hornet
14 anos atrás

Amigo Bosco, longe de mim entrar neste discurso da patriotada…esse tipo de coisa não me interessa nem um pouco. E também longe de mim ter que concordar acriticamente com o Godoy ou, pior ainda, com o Estadão…mas por incrível que pareça, desta vez até que a matéria não está de todo ruim, não. Ele só fez um apanhado geral de outras matérias, muitas inclusive que foram postadas aqui mesmo no blog… De qualquer modo, a questão dos “Kits” para bombas estão sendo desenvolvidos pelo CTA, pela Avibrás, pela Britanie, em diversas fases de desenvolvimento/produção…basta procurar no blog aéreo as notícas… Read more »

lucas lasota
lucas lasota
14 anos atrás

Caro Bosco Fiquei um pouco triste com seu comentario, tendo em vista ser um dos maiores e melhores comentaristas desses blogs. Infelizmente a decada de 90 foi de “banho-maria” para a industria de defesa nacional, entretanto as sobreviventes estao fazendo um trabalho quse heroico em manter-se atualizada neste cenario. Seria como o rei davi que teve que se fingir de louco e babar na frente do outro rei para nao ser morto. Mas os tempos estao mudando. Nao eh so porque nao vemos atualizacoes explicitas constantes que possamos julgar de forma tao acida que vc fez. No Brasil temos esta… Read more »

Bosco
Bosco
14 anos atrás

Caros Hornet e Lucas, talvez tenha me exaltado de modo irresponsável com meu comentário anterior e peço desculpas à todos. Mas, embora tenha muito respeito pelo Godoy em relação à política internacional acho que ele simplifica (e muitas vezes complica) demais quando o assunto é defesa. Mas alguns pontos eu acho interessante. Eu sei que mesmo em países desenvolvidos o desenvolvimento de sistemas de armas levam anos e mesmo décadas, não poderia ser diferente no Brasil. Mas aqui, além dos armamentos que levam décadas, como o MSS anti-tanque, temos vez por outra alguns que nascem do nada, pegando a todos… Read more »

Bosco
Bosco
14 anos atrás

PS.
…..Estado Brasileiro que é problemático desde o tempo das Capitanias Hereditárias.

Apertei uma tecla sem querer que enviou a mensagem fora de hora.

Um abraço a todos.

Hornet
Hornet
14 anos atrás

Amigo Bosco, sem dúvida. O Estado brasileiro é complicado desde Cabral, mas temos que nos virar com ele assim mesmo…é o que temos…hehehe E apesar disso, por incrível que pareça, ele tem melhorado muito nos últimos 120 anos…não melhora sempre, tem suas recaídas e tal…mas ao menos o Estado brasileiro já deixou de institucionalizar o trabalho escravo, por exemplo…já é um avanço, né? mas, mais complicado que o Estado é a imprensa. Esta, no Brasil, é complicada desde Gutemberg…hehe Seja como for, mesmo com todas essas complicações, algumas coisas estão sendo feitas e de maneira concreta (não estão no devaneio… Read more »