O Globo – 27/02/2012. Entrevista de página inteira. Trechos. Pasi Sahlberg, diretor de centro de estudos vinculado ao Ministério da Educação finlandês. Autor do livro, “Lições finlandesas: o que o mundo pode aprender com a mudança educacional na Finlândia?”.

1. Introdução. No ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) aplicado em 65 países pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a Finlândia alcançou o 3º lugar. O país chama a atenção não só pelos bons resultados, mas por apresentar um modelo diferente dos outros líderes do ranking, Na Finlândia, há pouco dever de casa, e a maior preocupação é com a qualidade dos professores e dos ambientes de aprendizado. Não há avaliações periódicas padronizadas de alunos e docentes, que não recebem remuneração por desempenho. E todo o sistema escolar é financiado pelo Estado.

2. PASI SAHLBERG. 2.1. A nossa reforma educacional não foi guiada pelo sucesso escolar e, sim, pela democratização do acesso a escolas de qualidade. Os pontos fortes do sistema finlandês são o foco nas escolas, para que elas possam ajudar as crianças a ter sucesso; educação primária de alta qualidade, que dê uma base sólida para as etapas seguintes do aprendizado; e a formação de professores em universidades de ponta, que tornaram a profissão uma das mais populares entre os jovens finlandeses. A Finlândia manteve uma política pública estável desde a década de 70. Diferentes governos nunca tocaram nos princípios que nortearam a reforma, apenas fizeram um ajuste fino em alguns pontos.

2.2. Essa ideia de uma escola pública de qualidade para todos os finlandeses foi um consenso nacional construído desde a Segunda Guerra Mundial. É o que no livro eu chamo de “sonho finlandês”. As crianças devem ser vistas como indivíduos que têm diferentes necessidades e interesses na escola. Ensinar deve ser uma profissão inspiradora com um grande propósito de fazer a diferença na vida dos jovens. Infelizmente, esses princípios básicos deram lugar a políticas regidas pelo mercado em vários países. Essa lógica de testar estudantes e professores direcionou os currículos e aumentou o tédio em milhões de salas de aula. A fórmula para uma reforma da educação em muitos países é parar de fazer essas coisas sem sentido e entender o que é importante na educação.

2.3. Primeiro, a experiência da Finlândia mostrou que é possível construir um modelo alternativo àquele que predomina nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países. Mostramos aqui que reformas guiadas pelo mercado, com foco em competição e privatizações não são a melhor maneira de melhorar a qualidade e a equidade na educação. Segundo, é importante focar no bem-estar das crianças e no aprendizado da primeira infância. Só saudáveis e felizes elas aprenderão bem. Terceiro, a Finlândia mostrou que igualdade de oportunidades também produz um aumento na qualidade do aprendizado.

2.4. Professores são profissionais de alto nível, como médicos ou economistas. Eles precisam de uma sólida formação teórica e treinamento prático. Em todos os sistemas educacionais de sucesso, professores são formados em universidades de excelência e possuem mestrado. O salário dos professores deve estar no mesmo patamar de outras profissões com o mesmo nível de formação no mercado de trabalho. Também é importante que professores tenham um plano de carreira, com perspectivas de crescimento e desenvolvimento.

2.5. O magistério é uma das profissões mais populares entre os jovens finlandeses. Todo ano, cerca de um a cada cinco alunos que terminam o ensino médio tem a carreira como primeira opção. Há dez vezes mais candidatos para programas de formação de docentes para educação infantil do que vagas nas universidades. Tecnologia é parte das nossas vidas e é usada nas escolas finlandesas. Professores na Finlândia usam tecnologia para ensinar de maneiras muito diferentes. Alguns, a utilizam muito e outros raramente. Aqui a tecnologia é uma ferramenta, mas o foco continua sendo na pedagogia entre pessoas, sem tecnologia. A tecnologia não deve guiar o desenvolvimento educacional e, sim, ser uma ferramenta como várias outras.

2.6. A mais importante das lições é que há uma alternativa para se chegar ao sucesso prometido por reformas guiadas pelo mercado. A Finlândia é o antídoto a este movimento que impõe provas padronizadas, privatização de escolas públicas e remunera os professores com base em avaliações de desempenho que se tornou típico de diversos sistemas educacionais pelo mundo.

FONTE: Ex-Blog do Cesar Maia

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Blind Man's Bluff
Blind Man's Bluff
12 anos atrás

Dizem que o legislativo e o judiciário brasileiro não funcionam. Dizem que se cortarmos todas essas cabeças nada mudará, pois a geração seguinte é ainda pior. Dizem que o brasileiro é mau educado, que não respeita nada e ninguem. Dizem que o problema vem do berço. Seja qual for o problema do brasileiro, essa geração Y, os herderos do boom economico, já está perdida. Dizem que o Brasil é o país do futuro, estranho é que esse futuro nunca chega. Talvez devessemos descer desse pedestal, baixar um pouco essa arrogancia nacionalista brasileira, essa intriga esquerdopata direitopatada e repensar a educação… Read more »

Antonio M
Antonio M
12 anos atrás

O que está corretíssimo no modelo finlandês é a prioridade no ensino básico e não aqui, que usam dinheiro público para colocar alunos em faculdades privadas pois usam seu lobby para criar leis que preenchem suas vagas excedentes ! Mas os defensores desse modelo alegam que isso é um tipo de discriminação pois seria coisa de quem não quer alunos pobres fazendo faculdade porém, não pensam que dinheiro público deve ir para escola pública!!! E o que justamente o modelo finlandês proporciona, acesso a formação básica-média pública, gratuita e de qualidade onde alunos vindos das camadas da sociedade se encontrariam… Read more »

Blind Man's Bluff
Blind Man's Bluff
12 anos atrás

Minha ex é Finlandesa, no tempo que estivemos juntos, ela estava estudando na Espanha, bancada pelo governo finlandes, assim como outros milhares de suomis que tbm tem essa oportunidade de ouro de estudar fora. Faz parte do ensino. Depois voltam pro frio da Finlandia com novas experiencias, novas culturas, novas linguas e conhecimento.
Enquanto isso no Brasil o novo rico gasta todo o dinheiro que pode em roupas e gadgets em Miami e acha que conhece o mundo inteiro.
pfff