Estoque nuclear da China cresce rapidamente e força de ICBMs pode igualar EUA e Rússia até 2030, diz SIPRI

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DF-41

A China possui pelo menos 600 ogivas nucleares e esse número “continuará crescendo na próxima década”, segundo o mais recente anuário do think tank sueco

O arsenal nuclear da China está crescendo “mais rápido do que o de qualquer outro país”, e sua força de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) pode potencialmente igualar a dos Estados Unidos ou da Rússia até o final da década, afirmou o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), um centro sueco dedicado ao estudo de armamentos.

De acordo com o mais recente anuário do SIPRI, a China adicionou cerca de 100 ogivas por ano ao seu arsenal nuclear desde 2023. Atualmente, possui ao menos 600 ogivas, e esse número “continuará crescendo na próxima década”, segundo o relatório divulgado nesta segunda-feira.

“A China… tem o arsenal nuclear de crescimento mais rápido do mundo”, disse o relatório.
Embora a maioria dessas ogivas esteja supostamente armazenada separadamente de seus lançadores, a China pode estar posicionando um pequeno número em mísseis — algo que os EUA e a Rússia fazem em escala muito maior. Segundo estimativas do SIPRI, 132 dessas ogivas já estão designadas a lançadores que estão em processo de carregamento.

Hans Kristensen, pesquisador sênior associado do SIPRI e diretor do projeto de informação nuclear da Federação de Cientistas Americanos, afirmou que diversos fatores podem explicar esse crescimento rápido, incluindo o apelo do presidente Xi Jinping de que a China “deve ser uma potência militar de classe mundial até meados do século”.

“[Pode ter havido] uma decisão aparente de que a dissuasão mínima anterior era insuficiente para impedir adversários potenciais, e possivelmente a conclusão de que os sistemas de defesa antimísseis cada vez mais avançados dos EUA poderiam reduzir a eficácia da capacidade de retaliação chinesa”, disse Kristensen.

O relatório apontou que, até janeiro, a China havia concluído — ou estava prestes a concluir — cerca de 350 novos silos de ICBMs em três grandes áreas desérticas no norte do país e três áreas montanhosas no leste. No entanto, ainda não estava claro se alguma dessas unidades já havia iniciado operação em prontidão de combate.

“Dependendo de como decidir estruturar suas forças, a China poderia ter pelo menos tantos ICBMs quanto os EUA ou a Rússia até o final da década, embora seu estoque de ogivas deva permanecer consideravelmente menor que o dos dois países”, afirmou o SIPRI.

Kristensen observou que, uma vez carregados e armados, os silos adicionais de ICBMs “claramente proporcionariam um poder destrutivo significativamente maior que a China poderia infligir aos EUA”.

“No entanto, ameaçar ataque com forças estratégicas centrais contra o território continental dos EUA em um cenário regional, como Taiwan, provavelmente não seria crível, pois desencadearia uma retaliação nuclear significativa dos EUA contra a China”, acrescentou.

As forças nucleares chinesas que provavelmente teriam papel em um cenário envolvendo Taiwan seriam mais regionalizadas, como os mísseis balísticos de alcance intermediário DF-26, que ameaçam instalações militares dos EUA na região. “Mas mesmo isso seria uma aposta arriscada, pois poderia escalar rapidamente para o uso de forças estratégicas”, afirmou.

Pequim considera Taiwan parte de seu território e admite o uso da força para reunificação. Os EUA, principal apoiador internacional de Taiwan, não reconhecem a ilha como independente, mas se opõem a qualquer mudança forçada do status quo e são legalmente obrigados a fornecer armas para sua defesa.

O SIPRI informou que, após a China modernizar seus mísseis DF-5 com veículos de reentrada múltiplos e independentes (MIRVs) — permitindo que um único míssil carregue várias ogivas para atingir alvos diferentes —, também passou a operar o míssil DF-41 com essa mesma tecnologia nos últimos cinco anos.

Caso a China venha a equipar todos os seus novos silos com mísseis de ogiva única, ela teria capacidade para posicionar cerca de 650 ogivas em seus ICBMs dentro de uma década. Mas se cada silo for equipado com mísseis portando três MIRVs, esse número poderia ultrapassar 1.200 ogivas, disse o SIPRI.

O aumento no número de países com programas de múltiplas ogivas poderia levar a um “rápido crescimento de ogivas implantadas” e permitir que Estados com armas nucleares, especialmente a China, “ameaçassem a destruição de um número significativamente maior de alvos”, acrescentou o relatório.

Segundo o SIPRI, a China está “no meio de uma significativa modernização e expansão de seu arsenal nuclear”, incluindo a substituição dos mísseis dos seus submarinos nucleares do tipo 094 por mísseis de maior alcance e o desenvolvimento de um novo submarino do tipo 096, além de bombardeiros estratégicos.

No entanto, o desenvolvimento do SSBN Tipo 096 parece estar enfrentando atrasos, e não está claro quantos submarinos com capacidade nuclear a marinha chinesa pretende operar.

“Os SSBNs chineses ainda não representam uma ameaça significativa ao território continental dos EUA, mesmo com os mísseis JL-3, de alcance intercontinental, lançados por submarino”, disse Kristensen. “Mas poderiam potencialmente ser usados contra alvos regionais ou contra o Alasca e o Havaí.”

Até janeiro, estimava-se que havia 12.241 ogivas nucleares no inventário global total, com EUA e Rússia juntos respondendo por cerca de 90% de todas as armas nucleares.

Quase todos os nove países com armas nucleares — além da China, EUA e Rússia, também Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel — continuaram com “programas intensivos de modernização nuclear em 2024, atualizando armas existentes e desenvolvendo novas versões”, disse o SIPRI.

Cerca de 9.610 ogivas estavam nos estoques militares com potencial de uso, das quais cerca de 3.910 estavam implantadas em mísseis e aeronaves. O restante estava armazenado em depósitos centrais.

Das aproximadamente 2.100 ogivas implantadas que permanecem em estado de alerta operacional elevado em mísseis balísticos, quase todas pertencem a EUA ou Rússia. No entanto, a China “pode agora manter algumas ogivas em mísseis mesmo em tempos de paz”, relatou o SIPRI.

“A era da redução do número de armas nucleares no mundo, que durou desde o fim da Guerra Fria, está chegando ao fim”, afirmou Kristensen. “Em vez disso, vemos uma tendência clara de crescimento dos arsenais, retórica nuclear intensificada e abandono dos acordos de controle de armas.”

Tanto os EUA quanto a Rússia lançaram extensos programas de modernização que podem aumentar o tamanho e a diversidade de seus arsenais.

Segundo o SIPRI, na ausência de um novo acordo para limitar estoques, o número de ogivas que os dois países implantam em mísseis estratégicos provavelmente aumentará após a expiração, em fevereiro do próximo ano, do tratado bilateral de 2010 sobre Medidas para a Redução e Limitação Posterior de Armas Ofensivas Estratégicas — o chamado New START. O tratado previa a redução pela metade dos lançadores de mísseis nucleares estratégicos.

Na introdução do anuário, o diretor do SIPRI, Dan Smith, alertou para os desafios que ameaçam o controle de armas nucleares e a possibilidade de uma nova corrida armamentista.

“O controle bilateral entre Rússia e EUA entrou em crise há alguns anos e agora está praticamente encerrado”, disse Smith, destacando a ausência de negociações para renovar ou substituir o New START. As exigências do ex-presidente dos EUA Donald Trump para que a China também limitasse seu arsenal nuclear “acrescentaram uma nova camada de complexidade às negociações”, afirmou.

“Os sinais indicam que uma nova corrida armamentista está se desenhando, com riscos e incertezas ainda maiores que a anterior”, alertou Smith.

Com o rápido avanço e uso de várias tecnologias na dissuasão e defesa nuclear — como inteligência artificial, capacidades cibernéticas, ativos espaciais, defesa antimísseis e tecnologias quânticas — “a ideia de quem está à frente na corrida armamentista será ainda mais difícil de medir do que na última vez”, concluiu.

“Nesse contexto, as antigas fórmulas numéricas de controle de armas já não serão suficientes.”

FONTE: SCMP


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José Joaquim da Silva Santos
José Joaquim da Silva Santos
5 horas atrás

O mundo inteiro se armando e o gigante bobão do Sul continua agindo como se nada estivesse acontecendo.

Camargoer.
Camargoer.
Responder para  José Joaquim da Silva Santos
1 hora atrás

Não faz sentido o Brasil desenvolver uma bomba atômica.

Já fiz um longo comentário sobre os problemas, começando com o custo de construção e depois do custo de manter um sistema de lançamento, Outro problema é iniciar uma corrida armamentista em uma região que conseguiu interromper este processo. Por fim, a vantagem estratégica será rapidamente neutralizada.

Os EUA desenvolveram a bomba como uma reação á Alemanha Nazista. a URSS desenvolveu com uma reação aos EUA. A França e a Inglaterra em reação á URSS. A China em reação aos EUA e Europa. A Ìndia em reação ao Paquistão e o Paquistão em reação á Ìndia. Israel em reação aos países árabes e a Coreia do Norte em reação aos EUA e á Coreia do Sul.

Eu não vejo qualquer cenário estratégico que requeira uma bomba.

As forças armadas brasileiras demandam forças convencionais.. porque nem isso existe.

Joanderson
Joanderson
Responder para  Camargoer.
37 minutos atrás

Armas nucleares é o sobrenome de soberania,certo tá os países que as tem.

Camargoer.
Camargoer.
Responder para  Joanderson
9 minutos atrás

Não.

Armas nucleares são apenas dissuasão contra outras armas nucleares.

Apenas os EUA tiveram uma vantagem estratégica enquanto teve o seu monopólio. Agora os países buscam neutralizar a vantagem relativa dos outros países.

No auge da Guera Fria, os EUA e a URSS tinham cerca de 70 mil ogivas. Um absurdo sob qualquer ponto de vista.

Hoje, cada um dever ter umas 5 mil cada um, com mais da metade em estoque. Eu suponho que cada um tenham umas 1,5 ~ 2,0 mil operacionais.

Acho que o número total hoje dever ser umas 12 mil. Daria para reduzir este número para 9~10 mil de uma tacada sem alterar a dissuasão mútua.

Neste aspecto, a culpa é de Trump que foi incapaz de dar continuidade aos tratados de redução de armas nucleares. Caso contrário, teria até alguma chance de ganhar um Nobel da paz.. presidentes dos EUA sempre tem alguma vantagem nesta corrida

Wagner Figueiredo
Wagner Figueiredo
4 horas atrás

Faltou a Arábia Saudita aí!!! Até parece que não compraram do Paquistão !!! Rsrs

Josè
Josè
Responder para  Wagner Figueiredo
4 horas atrás

Como foram os sauditas que pagaram pelo projeto nuclear paquistanês talvez “compraram” não seja o melhor termo, “pegaram” a parte deles se encaixa melhor.

Rafael Coimbra
Rafael Coimbra
4 horas atrás

A falta de compromisso dos nossos governantes é assustadora, é obvio que temos a capacidade de produzir e “entregar” armas nucleares, o que falta é culhoes para dar a ordem de produção. Vamos sofrer retaliações? é óbvio que sim, mas logo passa. Não podemos esquecer que alimentamos o mundo.

Dagor Dagorath
Dagor Dagorath
Responder para  Rafael Coimbra
2 horas atrás

Produzir artefatos nucleares não seria difícil para o Brasil, já que dominamos o ciclo de enriquecimento do urânio. Mas à nível de vetores de “entrega” ainda estamos engatinhando. No máximo temos foguetes-sonda sem guiagem e com alcance reduzido como o VSB-30 e estamos patinando há mais de 20 anos com o AV/MT-300.

Camargoer.
Camargoer.
Responder para  Dagor Dagorath
1 hora atrás

O fato do pais dominar o ciclo de enriquecimento é uma coisa. Atingir capacidade de enriquecer 80 kg com 95% para uma bomba é outra coisa.

È possível ajustar as atuais centrífugas para sucessivas fases de enriquecimento, que demandaria muito tempo, ou construir novas cascatas, o que seria caro e obviamente impossível de ser escondido

Bombas de urãnio são pesadas e grandes. Demandariam um sistema de lançamento mais robusto.

Bombar menores são feitas de plutõnio. Neste caso é preciso um reator ao invés de enriquecimento porque o plutônio é produzido do urãnio 238.

Contudo, é bem difícil desenvolver uma bomba de plutõnio porque precisa otimizar o sistema de implosão.

De qualquer modo, um dispositivo demanda o desenvolvimento de diversos dispositivos com diferentes materiais para concentrar os neutros para a explosão, caso contrário, eles são espalhados sem que possam iniciar e sustentar a reação em cadeia no tempo necessário.

Voltando ao ponto do sistema de lançamento…, seria possível homologar o Gripem para lançamento por gravidade ou até acomplado a um míssil ar-terra ou ar-mar… mas isso dependeria de bombas de plutõnio.

Seria possível desenvolver foguetes de combutível líquido para que tenham alcance, mas os países estratégicos que possuem armas nucleares estão no hemistŕio norte praticamente inacessíveis aos míssieis balísticos.

A melhor opção seriam submarinos com capacidade de lançamento, mas para isto teria que ter uma frota de submarinos, 3 ou 4, com propulsão nuclear e ainda o desnvolvimento de mísseis.

ou seja, …,

ter bomba para ser lançada com paraquedas da traseira de um Kc390 para atingir a Argentina ou a Bolivia não faz sentido.

Scudafax
Scudafax
3 horas atrás

Que o arsenal chinês aumente sempre mais, garantindo um maior equilíbrio de forças no mundo e nos livrando da dominância de um único país.

Dagor Dagorath
Dagor Dagorath
2 horas atrás

A China já exportou o DF-21 para a Arábia Saudita. Ainda que sem ogivas nucleares, é uma arma de dissuasão extraordinária.