O enviado da ONU para mediar os conflitos na Síria, o diplomata argelino Lakhdar Brahimi, teme que o vazio de poder criado com a queda do regime do presidente Bashar al-Assad possa ser ocupado por rebeldes e milícias.

Em entrevista concedida ao jornal de língua árabe baseado em Londres al-Hayat, o diplomata conjectura acerca dos riscos de sectarismo e divisões étnicas na Síria, e declarou: “o que eu temo é pior… Temo que o colapso do Estado transforme a Síria em uma nova Somália”. O país localizado no extremo leste, na região do Chifre da África, está sem governo centralizado desde a guerra civil em 1991.

“As pessoas falam do risco de cisão da Síria. Mas não é isso que eu vejo”, disse Brahimi, designado pela ONU para mediar os conflitos entre rebeldes e o governo de Assad em agosto, substituindo Kofi Annan. “Acredito que se a situação não for conduzida de forma adequada, o perigo é de uma ‘somalização’. Haverá colapso do Estado, e ascenção de senhores da guerra e milícias”.

O trabalho de Brahimi se torna ainda mais complicado por conta das diferenças dentro da comunidade internacional sobre como o conflito – que já dura 19 meses – deve ser solucionado. As revoltas contra o governo de Assad começaram pacíficas, inspiradas pelos levantes em outros países da região – a chamada Primavera Árabe. Mas as lutas armadas começaram poucos meses depois, quando o presidente mandou forças militares para suprimir os protestos.


Ao ser perguntado sobre até quando os confrontos podem continuar, o enviado da ONU afirma: “Todos precisam encarar uma verdade amarga e difícil – uma crise como essa, se não for tratada corretamente, pode se arrastar por um ano, dois, ou mais”. E completa: “espero que não dure todo esse tempo, mas pode acontecer, se todos os envolvidos, dentro e fora da Síria, não fizerem o que é preciso”.

Em entrevista no último domingo (04), na cidade do Cairo, Brahimi pediu às autoridades mundiais que adotem uma resolução proposta pelo Conselho de Segurança da ONU, com base em um acordo mediado por Kofi Annan em Junho desse ano em Genebra, e que propunha estabelecer um governo de transição na Síria. “Sim, o Conselho de Segurança está dividido. O importante é que o acordo de Genebra seja aplicado em uma solução”, explica o diplomata.

Rússia e China, membros permanentes do Conselho, vetaram três esboços de resoluções propostas pela ONU que poderiam aumentar a pressão sobre o governo de Assad. A Declaração de Genebra não especifica se o atual presidente teria algum papel em um possível novo governo sírio.

FONTE: Huffington Post e BBC (Tradução e adaptação do Forças Terrestres a partir de original em inglês)
FOTOS: AFP via BBC

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