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Por DAVID E. SANGER

vinheta-clipping-forte1Quando o governo Obama distribuiu a provedores de internet americanos uma longa lista confidencial de endereços digitais ligados a um grupo de hackers que furtou vários terabytes de dados de corporações dos EUA, um fato crucial ficou de fora: o de que praticamente todos os endereços estavam em um bairro de Xangai onde funciona a sede do comando cibernético das Forças Armadas chinesas.

Essa omissão deliberada salienta a alta sensibilidade dentro do governo Obama sobre até que ponto convém confrontar diretamente a nova liderança chinesa por causa dos hackers, enquanto Pequim diz não ter envolvimento com os ataques.

A questão ilustra como a Guerra Fria cibernética entre as duas maiores economias mundiais é diferente dos conflitos entre superpotências de décadas atrás -menos perigosa sob certos aspectos, porém mais complexa e perniciosa sob outros.

Funcionários do governo dizem agora estar mais dispostos a acusar diretamente os chineses -como fez recentemente o secretário de Justiça, Eric Holder, ao anunciar uma nova estratégia para o combate ao furto de propriedade intelectual. Mas o presidente Barack Obama evitou citar nominalmente a China -ou a Rússia e o Irã- quando declarou no seu discurso que sabia “que companhias e países estrangeiros golpeiam nossos segredos corporativos”. Ele acrescentou: “Agora nossos inimigos estão também buscando a capacidade de sabotar nossa rede elétrica, nossas instituições financeiras e nossos sistemas de controle do tráfego aéreo”.

Definir “inimigos” nem sempre é tarefa fácil. A China não é uma inimiga declarada dos EUA, da mesma forma como a União Soviética era. A China é, ao mesmo tempo, um competidor econômico, um cliente e um fornecedor crucial. Os dois países tiveram um comércio de US$ 425 bilhões no ano passado, e a China continua sendo, apesar das muitas tensões diplomáticas, um financiador importante da dívida americana.

No caso dos indícios de que o Exército chinês seja provavelmente a força por trás do “Comment Crew”, o maior dos cerca de 20 grupos de hackers acompanhados pela inteligência americana, os EUA estão sendo altamente circunspectos.

Funcionários do governo adoraram que a Mandiant, uma empresa privada de segurança, tenha divulgado um relatório localizando a origem dos ataques digitais nas imediações do comando cibernético chinês.

Autoridades disseram reservadamente que não veem problemas nas conclusões da Mandiant, mas que não queriam dizer isso publicamente.

Isso explica por que a China não foi mencionada como o local de servidores suspeitos no alerta aos provedores da internet. “Disseram-nos que constranger diretamente os chineses sairia pela culatra”, disse um funcionário de inteligência. “Isso só os tornaria mais defensivos e mais nacionalistas.”

Mas essa visão está começando a mudar. Nos próximos meses, dizem autoridades dos EUA, haverá muitos alertas privados de Washington aos líderes chineses, inclusive Xi Jinping, que assume em breve a Presidência da China. Os americanos devem argumentar que a dimensão e a sofisticação dos ataques dos últimos anos ameaçam desgastar o apoio à China por parte da comunidade empresarial dos EUA -principal aliada de Pequim em Washington. As recomendações sobre o que fazer variam muito -de uma negociação calma e sanções econômicas a discussões sobre contra-ataques a serem feitos pelo Comando Cibernético dos militares americanos, uma unidade que já se envolveu em ataques digitais contra instalações nucleares do Irã.

O próximo debate é, portanto, sobre uma retaliação americana. Washington já está cheia de conferências falando de “domínio da escalada” e “dissuasão ampliada”, termos emprestados da Guerra Fria.

Essa retórica tem algo de exagero, sendo alimentada pela crescente indústria da segurança cibernética e pelo desenvolvimento de armas cibernéticas ofensivas, embora o governo dos EUA jamais tenha admitido seu uso. Mas há uma discussão séria nos bastidores sobre que tipo de ataque à infraestrutura americana -algo que os hackers chineses ainda não tentaram seriamente- poderia induzir um presidente a ordenar um contra-ataque.

FONTE: Folha de S. Paulo via Resenha do Exército

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