Brasil Chinavinheta-clipping-forte1Nas mais de 400 páginas do livro China Goes Global (a China se lança no mundo, em tradução livre), de David Shambaugh, um dos únicos pontos de exclamação é usado quando ele descreve o choque provocado pelo despreparo da diplomacia brasileira em lidar com a China.

“Quando visitei o Ministério das Relações Exteriores, em 2008, me foi dito que não havia sequer uma pessoa fluente em chinês ou um grupo de especialistas em China em todo o serviço diplomático!”, espanta-se ele, um dos mais renomados especialistas em política externa chinesa.

O Itamaraty (que Shambaugh grafa como “Itamarichy”) agora tenta recuperar o atraso, com um grupo de jovens diplomatas em Pequim exclusivamente dedicados a aprender o idioma chinês.

Shambaugh teve outra surpresa ao questionar os governos do Brasil e de outros países da América do Sul sobre qual era a estratégia em relação à China. A resposta geralmente foi um silêncio constrangedor, conta Shambaugh.

A falta de uma estrutura acadêmica de estudos sobre o maior parceiro comercial do Brasil também impressionou o autor. “É chocante, mas não há um programa de estudos chineses em todo o Brasil”, escreveu.

O despreparo é explorado pelos chineses em sua expansão silenciosa no continente, afirma o autor. A maioria dos diplomatas chineses na região fala português ou espanhol com fluência.

E, apesar de negarem, têm uma estratégia definida, baseada na abertura de mercados e na obtenção de recursos naturais.

O desequilíbrio nas relações deveria ser motivo de preocupação, afirma Shambaugh. Segundo um estudo recente da Universidade Columbia (EUA), o Brasil exporta para a China 7,6% de produtos de alta tecnologia, enquanto importa 41,4% de itens desse tipo.

“Sim, o Brasil deveria ver a China com preocupação exatamente por isso.”, disse ele à Folha, por e-mail.

Outros países da América Latina e da África já começam a ter dificuldades no comércio com a China devido a essa atitude, chamada de neo-colonialista, diz ele.

“Todos esses países precisam acordar para o tipo de desafio que a China impõe, ser mais duros e deixar a ingenuidade de lado”, diz.

Diretor do Programa de Política da China da Universidade George Washington, Shambaugh falará hoje no Instituto Fernando Henrique, em São Paulo.

China é uma potência parcial, diz especialista

FONTE: Folha de São Paulo/MARCELO NINIO DE PEQUIM

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Colombelli
Colombelli
10 anos atrás

Não quero parecer paranóico, mas se há um pais que no futuro pode projetar força militar em vista da África e da américa latina são os chineses. Já demonstraram nas suas práticas comerciais, que são agressivos e não titubeiam em defender seus interesses passando por sobre o direito internacional. É um pais superpopuloso, sem acesso à fontes de água fartas, a petróleo ou a riquesas minerais, ao menos não na quantidade que precisam. Estão comprando vastas áreas de terras na África e AL. Seu modelo é retirar comodities e matéria prima e devolver produtos industrializados, desde os mais simples até… Read more »

Marcos
Marcos
10 anos atrás

A imagem das bandeiras da China e do Brasil, acima, é emblemática e deve ser entendida assim: a China tomando o Brasil. Os chineses já declararam seus interesses: comprar matéria prima e vender seus produtos industrializados. Mais do que isso, estão comprando grandes quantidades de empresas relacionadas a área de commodities e grandes quantidades de terras. No Brasil compram terras utilizando empresas chinesas instaladas na Argentina: fica parecendo que é uma empresa argentina. o reverso também ocorre. Alguém vai dizer: empresas americanas também compram. Exatamente isso, algumas EMPRESAS PRIVADAS americanas também compram. A diferença é que as empresas chinesas que… Read more »

Marcos
Marcos
10 anos atrás

Tem mais: a festança é grande entre governo e empresariado, simplesmente porque, POR ENQUANTO, tudo é festa e “todo mundo” está ganhando dinheiro. Produtos que saem da China por US$1, são vendidos por aqui por R$80, ou seja, ganha o governo, via impostos, ganha o grande empresario, via grandes margens de lucro. O problema é final da corda: o povão, que paga caro por um produto ruim, acreditando que agora não é mais pobre.