O diabo está nos detalhes enquanto Trump anuncia início ‘imediato’ de negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia

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Andrew Korybko

Trump parece ter reconhecido os limites da mediação de terceiros entre Rússia e Ucrânia na postagem que fez após sua última ligação com Putin na segunda-feira. Ele anunciou o início “imediato” das negociações de cessar-fogo entre os dois, mas especificou que “as condições para isso serão negociadas entre as duas partes, como deve ser, porque elas conhecem detalhes de uma negociação que ninguém mais saberia.” Aqui estão dez briefings de contexto que ajudam a entender melhor essa nova posição:

Recapitulando, os EUA até agora queriam que a Rússia aceitasse congelar a Linha de Contato (LOC) em troca de uma série de acordos lucrativos (provavelmente centrados em recursos), na ausência dos quais outra rodada de sanções americanas poderia ser aplicada, talvez até mesmo com a retomada em larga escala da ajuda militar à Ucrânia. As sanções ainda estão sobre a mesa, mas a postagem mais recente de Trump foi escrita de forma muito mais polida do que algumas anteriores que expressavam impaciência crescente com Putin, sugerindo assim que algum progresso foi feito.

Só é possível especular sobre o que eles conseguiram em sua conversa de duas horas, mas Trump insinuou que uma diplomacia econômica/energética criativa por parte dos EUA poderia aumentar as chances de a Rússia ceder à Ucrânia. Ele escreveu que “a Rússia quer fazer COMÉRCIO em larga escala com os Estados Unidos quando esse catastrófico ‘banho de sangue’ acabar, e eu concordo. Esta é uma oportunidade tremenda para a Rússia criar uma enorme quantidade de empregos e riqueza. Seu potencial é ILIMITADO.”

Putin continua avesso a um cessar-fogo incondicional desde que declarou em junho passado que a Rússia só concordaria com isso se a Ucrânia se retirasse de todas as regiões disputadas, abandonasse seus planos de entrar na OTAN e fosse cortada de todo armamento estrangeiro. Zelensky afirmou logo após a conversa de segunda-feira que a Ucrânia não vai se retirar, continua comprometida com a entrada na OTAN e ainda será difícil para os EUA convencer os europeus a pararem de armar a Ucrânia. Assim, não está claro como as negociações de cessar-fogo irão avançar.

Ainda assim, Putin também afirmou após sua ligação com Trump que “A questão-chave, é claro, é agora para o lado russo e o lado ucraniano mostrarem seu firme compromisso com a paz e forjarem um compromisso aceitável para todas as partes. Notavelmente, a posição da Rússia é clara. Eliminar as causas raízes dessa crise é o que mais importa para nós.” Seu desejo de alcançar um compromisso mutuamente aceitável sugere que ele pode mostrar mais flexibilidade do que antes, talvez atraído pelas ofertas econômicas dos EUA.

Embora ele certamente queira que a nascente “Nova Distensão” entre Rússia e EUA evolua para uma parceria estratégica plena após o fim do conflito, sua reafirmação de que é necessário eliminar as causas raízes da crise deve dissipar a especulação de que ele “venderá” os objetivos da operação especial em troca. Para relembrar, esses objetivos são restaurar a neutralidade constitucional da Ucrânia, desmilitarizá-la, desnazificá-la e agora também obter reconhecimento das novas realidades territoriais após os referendos de setembro de 2022.

O primeiro e o último são objetivos diretos, enquanto os outros dois deixam muito espaço para interpretação. Isso significa que é improvável que a Rússia ceda na restauração da neutralidade constitucional da Ucrânia ou se retire de qualquer território que reivindique como seu. Hipoteticamente, poderia congelar a dimensão territorial do conflito ao não tentar mais obter controle militar total sobre todas as regiões disputadas, caso o restante sob controle ucraniano receba a autonomia prometida a Donbass nos Acordos de Minsk.

Para deixar claro, não há indicação de que isso esteja sendo considerado — é apenas conjectura fundamentada — assim como a proposta de uma região desmilitarizada “Trans-Dnieper” controlada por pacificadores não ocidentais que englobaria tudo ao norte da LOC e a leste do rio. Essa última poderia representar um compromisso mutuamente aceitável sobre desmilitarização e desnazificação — cujos objetivos são vagos, como já mencionado — mas aparentemente não faz parte das conversas neste momento.

De qualquer forma, o ponto é que desmilitarização e desnazificação são os dois objetivos nos quais Putin mais realisticamente poderia ceder, mas apenas para garantir uma melhoria tangível nos interesses de segurança nacional da Rússia a longo prazo. De forma geral, isso significa que a Ucrânia deve ou deixar de funcionar como um proxy da OTAN até o fim do conflito, ou que as ameaças que ela representa como tal sejam afastadas da fronteira — o que poderia ser alcançado por meio da proposta “Trans-Dnieper”.

Mais amplamente, o ideal seria um reatamento transformador entre Rússia e EUA, diminuindo significativamente a chance de que o membro mais poderoso da OTAN possa ser manipulado por provocações de aliados “rebeldes” a entrar em guerra com a Rússia. Esse desfecho teria a maior importância estratégica, então é possível que Putin esteja disposto a fazer mais concessões do que o esperado se acreditar que isso estaria realmente ao seu alcance.

Ao mesmo tempo, ele está disposto a compromissos, não a concessões unilaterais como as que Zelensky exige e os EUA sugerem fortemente que desejam. Isso significa que quaisquer concessões que ele proponha — especialmente se forem inesperadas — devem ser retribuídas pela Ucrânia e/ou pelos EUA. Se Zelensky se recusar, então caberia a Trump forçá-lo a cooperar, para não perder a oportunidade de paz que qualquer concessão inesperada de Putin possa representar.

Qualquer insubordinação de Zelensky teria que ser enfrentada com firmeza, ou o “COMÉRCIO em larga escala” com a Rússia vislumbrado por Trump — que ele acredita ter potencial “ILIMITADO” — seria perdido, assim como a chance real de ele conquistar o Prêmio Nobel da Paz, como deseja para seu legado. Isso poderia incluir o corte total da ajuda militar e de inteligência e, talvez, até ameaçar com sanções os países europeus que continuarem a fornecer apoio nesse período.

Trump insinuou a possibilidade de voltar a congelar a ajuda militar à Ucrânia ao mencionar, após sua ligação com Putin: “Essa não é nossa guerra. Essa não é minha guerra… Quero dizer, nos envolvemos em algo que não deveríamos.” Ele também confirmou que Zelensky “não é a pessoa mais fácil de lidar. Mas acho que ele quer parar… Espero que a resposta seja que ele quer resolver isso.” Se ele passar a ver Zelensky como o obstáculo à paz — e não Putin — pode voltar a cortá-lo.

Em última análise, o diabo está nos detalhes das próximas negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, que por sua vez determinarão se os EUA seguirão com sanções contra a Rússia ou cortarão apoio à Ucrânia. O público não tem acesso às estratégias de negociação de cada equipe, nem à flexibilidade que seus líderes lhes concederam, então haverá muita notícia falsa, especulação e conjectura fundamentada daqui pra frente. Todos devem, portanto, se preparar para isso e reforçar seu letramento midiático para não serem enganados.

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Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
2 horas atrás

“Qualquer insubordinação de Zelensky teria que ser enfrentada com firmeza, ou o “COMÉRCIO em larga escala” com a Rússia vislumbrado por Trump — que ele acredita ter potencial “ILIMITADO” — seria perdido, assim como a chance real de ele conquistar o Prêmio Nobel da Paz, como deseja para seu legado.”

Deixando de lado essa bobagem de “Nobel da Paz”, o Trump, e os EUA, sabem que, pra bater de frente com a China, seja comeecialmente, seja militarmente, os EUA não podem fazer isso enquanto se ocupam com “outros empecilhos” ao redor do mundo, sendo a Ucrânia e Israel os maiores deles.
E, principalmente, os EUA náo podem fazer isso com uma Rússia claramente pró-China, como agora.
Se Trump conseguir fazer uma Rússia “pró-Ocidente” e neutra em relação com a China, é a melhor coisa que ele conseguiria alcançar.

Nilo
Nilo
Responder para  Willber Rodrigues
1 hora atrás

A neutralidade da Rússia na visão do Trump virá da abertura total do mercado russo e seus minerais para os americanos, essa é a pretensão, acesso a reconstrução da Ucrânia, o restos virá com acordos sobre segurança no Oriente Médio que inclua Iran, Síria e a segurança do transporte logístico de petróleo.
Trump na prática deixou a solução por conta do Putin mas ao público a ideia é vendida aos poucos, afinal como diz Zé Lascado não tem cartas,. O único empecilho para a paz não ter ainda ocorrido é a resistência da Europa em admitir a rendição (sem condições) da Ucrânia, os planos de resistir as condições do Putin são ineficazes. Só mais morte e destruição. A realidade no campo de batalha é um fator determinante na mesa de negociações.

Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
Responder para  Nilo
1 hora atrás

“A neutralidade da Rússia na visão do Trump virá da abertura total do mercado russo e seus minerais para os americanos (…)”

Pessoal vai me negativar ou achar absurdo, mas não vejo nada impossível os EUA incentivando fábricas de chip’s e de processamento de terras-raras na Rússia, pra “consumo” dos EUA, como forma dos EUA mitigarem sua dependência nesses setores sobre a China…

“O único empecilho para a paz não ter ainda ocorrido é a resistência da Europa em admitir a rendição (sem condições) da Ucrânia (…)”

Perguntei a algum tempo atrás se, caso os EUA e Rússia fizerem, assinarem e concluírem um plano de paz separado, com os EUA cortando toda a ajuda militar a Ucrânia, se os europeus continuariam a ajudar a Ucrânia “por conta própria”, ou se eles “jogariam a toalha” também.

Última edição 1 hora atrás por Willber Rodrigues
Nilo
Nilo
Responder para  Willber Rodrigues
1 hora atrás

A concepção meu caro ideológica fica para os tolos, a visão do anti comuna, anti ditador é coisa de chapéu de alumínio, veja, Arábia Saudita, Trump compra petróleo e vendas de tudo, com a Rússia Trump não fará diferente, como disse Rússia tem mais a oferecer que Ucrânia.
Quanto a sua pergunta abaixo, já contém a resposta, # já jogaram a toalha # o resto é puro verniz, todas as atuais alternativas não tem apoio militar do EUA. O que os russos pensam das concessões exigidos pelos europeus, para a pacificação, enumeradas verá que todas serão rejeitadas, vc daria razão a quem queria balcanizar seu país? Que levou sofrimento, morte e destruição? Os moleques europeus são tolos, seus discursos civilizatórios estão sobre escrutínio, isso fica para os patriotas e esquerdistas tolos que quer para A.Sul o que não deu certo na Europa, uma réplica da União Europeia. Russo não é brasileiro não relativiza sua soberania.

BraZil
BraZil
2 horas atrás

A coisa deve mesmo estar feia para a Ucrânia e o “ocidente disposto”, pois a pressão nas últimas semanas, sobre a Rússia, para que ela aceite um agora improvável acordo de paz é visivelmente grande…e ela só aceitará, se as condições lhe forem muito vantajosas, do contrário, melhor continuar avançando e ganhando capital político estratégico. Na minha visão, do jeito que as coisas estão se desenrolando, se o Kremlin aceitar esse acordo, podem ter certeza de que será por que (por baixo dos panos), tiraram até a última gota de mojo da Ucrânia…

Nilo
Nilo
Responder para  BraZil
1 hora atrás

Operação enroleixan rsrs.
Quem assistiu as declarações dos líderes europeus junto ao Zé Lascado e as respostas das perguntas aos repórteres vê claramente que a Europa já está sem meios para forçar a Rússia a ceder aos caprichos dos moleques europeus, Zé Lascado terá o mesmo fim que Mussolini, por sorte pode ser preso e julgado pelo ucranianos, mas as forças que o apanham não serão tolerados por Putin em uma Ucrânia pacificada.

Nilo
Nilo
Responder para  Nilo
55 minutos atrás

…as forças que o apoiam…

Sequim
Sequim
1 hora atrás

Verdade é que Trump percebeu que a Rússia não irá abrir mão de seus interesses estratégicos. Tentaram estrangular a Rússia com sanções. Deu em nada. Tentaram pressão militar indireta, com ajuda maciça à Ucrânia. Deu em nada. Agora tentam “comprar ” a Rússia com acordos comerciais, mas verdade é que enquanto os russos não assegurarem seus objetivos na Ucrânia, tudo fica como está.

Macgaren
Macgaren
1 hora atrás

Putin enrolando

Camargoer.
Camargoer.
1 hora atrás

Pois é.

Há quase 3 anos eu escrevo que o caminho para resolver este conflito é a via diplomática e que ela depende dos dois países, Russia e Ucrãnia, se reunirem

7 x 1 para mim.

Underground
Underground
Responder para  Camargoer.
31 minutos atrás

Parece aquela proposta para acabar com corrupção no Brasil: é só as pessoas envolvidas decidirem parar de roubar.
Tão simples!!!
No mais, Putin já declarou que tem intenção de destruir a cultura ucraniana: trata-se portanto de genocídio, puro e simples. Não basta eliminar pessoas, tem de destruir sua cultura.

Underground
Underground
26 minutos atrás

Olhando para o outro lado, no caso da guerra Israel Palestina, e o comportamento de Trump, me parece que este busca uma “paz” a qualquer custo. Primeiro tem de resolver os problemas de seu próprio país.

Fábio De Souza
Fábio De Souza
21 minutos atrás

Neste Conflito que está com as Cartas , é Rússia ,e o Putin sabe bem disso , então é bem claro que os Russos não vão se retirar da Ucrânia , sem um acordo Plausível , para a Rússia. Com Relação da Aproximação dos EUA com a Rússia , acredito que seja , uma das Jogadas mais inteligente do Trump. Existe aquele ditado : Se não pode com ele , juntasse a ele . A Rússia apesar de ser uma Potencia Nuclear , nunca iria atacar os Americanos , e com relação aos Americanos a mesma coisa . O Trump , percebeu isso e sabe que neste Momento o Único Inimigo real , aos Americanos são os Chineses. Portanto é muito melhor ter os Russos , como amigos neste momento , outra observação é que nem nos momentos , mais quentes da Guerra Fria , os dois países não cruzaram a linha vermelha. Já se fosse os Chineses , talvez a reação pode ser outra . .