Virou senso comum dizer que o Afeganistão corre o risco de ser a Guerra do Vietnã de Barack Obama, no sentido de que, como o republicano Richard Nixon em 1969, ele vai tomar para si o comando de um conflito que não iniciou e que não tem muita chance de vencer.
Ontem, ao anunciar aos marines do campo Lejeune, na Carolina do Norte, que vinha falar “como a guerra no Iraque terminará”, o presidente democrata tocou cinco vezes no tema Afeganistão. É que em poucas semanas 8.000 soldados daquela base serão enviados para o conflito, já parte da escalada ordenada por Obama.
“Há muitas lições a serem aprendidas com o que vivemos” no Iraque, disse Obama aos soldados. “Aprendemos que os EUA devem ir à guerra com metas claramente definidas, razão pela qual eu ordenei uma revisão de nossa política no Afeganistão.” É preciso ser honesto sobre o custo da guerra, disse.
Outra lição é não deixar o serviço pela metade, algo que Obama não mencionou ontem, mas que pode vir morder seu calcanhar nos próximos meses.
Com exceção da queda de Saddam Hussein, bem-vinda e aplaudida pela maioria da opinião pública mundial, nenhum dos objetivos declarados pelos EUA para invadir o Iraque foi cumprido.
Sim, o país está mais estável, seguro e funcional do que após a invasão -mas esses são problemas que foram criados pela própria invasão. As metas mais amplas e que teriam justificado historicamente o custo humano e financeiro do conflito nunca saíram do papel.
A democracia não chegou ao Oriente Médio -há dúvidas mesmo de que tenha chegado ao Iraque-, e essa região não está mais estável porque o regime iraquiano é simpático a Washington, como haviam prometido Bush, Cheney e companhia.
Uma opção para o atual presidente seria a retirada imediata das tropas, o que o desvincularia de um conflito com o qual não tem nada a ver e do qual foi crítico de primeira hora, já em 2002. Ao sair, mas não sair muito, como anunciou ontem, Obama pode ver o Iraque, e não o Afeganistão, virar sua Guerra do Vietnã. (SD)

FONTE: Folha de São Paulo

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