General Petraeus diz que guerra no Afeganistão deve recrudescer e deixa retirada em aberto

Fernando Eichenberg

Em audiência ontem na Comissão de Serviços Armados do Senado americano, o general David Petraeus, novo comandante das forças dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão, reiterou que os combates na região se tornarão ainda mais intensos nos próximos meses até que a situação possa melhorar. O general confirmou, no entanto, o início da retirada de soldados americanos para julho de 2011, mas de “maneira ordenada” e numa “redução responsável”.

Senadores republicanos e também democratas têm questionado o prazo estabelecido pelo presidente Barack Obama para deflagrar a etapa de regresso das tropas. Os parlamentares argumentam que será muito difícil alcançar a vitória quando os talibãs já sabem que, em meados do ano que vem, os americanos começarão a bater em retirada.

— É a data quando começa o processo, e não a data em que os EUA correm para a porta de saída — observou Petraeus.

O calendário foi estabelecido segundo as projeções de novos avanços contra as forças talibãs até julho de 2011.

— Estamos fazendo o humanamente possível para conseguir essas condições — enfatizou o general.

O novo comandante garantiu, no entanto, que o compromisso das tropas no Afeganistão será “duradouro”, e previu “muitos anos” até que o controle possa ser totalmente transferido para as forças de segurança locais.

Corrupção afegã pode ser obstáculo

Os senadores manifestaram igualmente suas preocupações com as denúncias de crescente corrupção envolvendo o entourage do presidente afegão Hamid Karzai — autoridades americanas estimam em US$ 1 bilhão o valor do desvio anual em espécie para fora do país. Petraeus, entretanto, manifestou seu apoio ao líder local, e sublinhou a necessidade da busca de unidade nos esforços de guerra entre oficiais afegãos, civis e militares do governo Obama e líderes da Otan.

Para o senador republicano Roger Wicker, a Casa Branca deve enviar claros sinais ao governo de Cabul de que não tolerará a transigência com a corrupção no país.

— Karzai não é o melhor do mundo, mas é o que temos, e temos de tratar com ele — ponderou o parlamentar.

Um novo relatório do governo de Washington aponta que os militares americanos superestimaram a capacidade das forças de segurança afegãs — Exército e Polícia — essenciais para a estratégia da guerra e a diminuição das tropas estrangeiras no país.

Em seu pronunciamento, Petraeus endossou as linhas gerais da estratégia de guerra adotada pelas forças de coalizão, o que já era esperado.

Como chefe de seu antecessor, general Stanley McChrystal — afastado do comando na semana passada por causa de suas críticas a membros do governo publicadas na revista “Rolling Stone” — Petraeus foi em grande parte mentor das táticas de contrainsurgência no Afeganistão.

Mas o general deu sinais de que poderá revisar os atuais limites impostos aos ataques dos soldados americanos para evitar a morte de civis, alvo de críticas entre as tropas e parlamentares, ao afirmar que irá “analisar seriamente” a questão.

— Focar na segurança da população não significa, no entanto, que não vamos perseguir o inimigo. Proteger a população requer inevitavelmente matar, capturar ou rechaçar os insurgentes.

Nossas forças têm feito isso e continuarão fazendo — assegurou. — Aqueles que estão lutando devem ter todo o apoio de que precisarem enquanto estiverem em situação difícil.

Durante a audiência no prédio do Capitólio, manifestantes, em silêncio, exibiram cartazes de protesto, coloridos de rosa, com os dizeres “Novo general, velha guerra” ou “Parem de financiar a guerra”. Junho já é o mais sangrento mês para as forças internacionais desde o início da guerra, em 2001, com quase 100 mortos.

FONTE: O Globo, via CCOMSEx

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Resc
Resc
13 anos atrás

Se não consegue vencer o taliban, imagine uma China, Russia, Venezuela, rsrsrs