A Força pretende comprar até US$ 4,5 bilhões em mísseis e canhões para proteger estádios de ataques terroristas durante os jogos



PEDRO PAULO REZENDE. COM GERSON MORA E MARCO VERGOTTI (GRÁFICO) E DAVID MICHELSOHN (INFOGRAFIA ONLINE)

O rúgbi é o principal esporte da África do Sul. Em 1995, o país foi sede da Copa do Mundo de Rúgbi. O torneio foi cercado de grande simbolismo. Era o primeiro grande evento esportivo realizado no país, que pouco antes se libertara do regime do apartheid. O jogo final entre África do Sul e Nova Zelândia foi realizado no Ellis Park, em Johannesburgo, com a presença do então presidente, Nelson Mandela.

De repente, um jato Boeing 747 fez um voo rasante, não autorizado, sobre o estádio. O avião tinha a mensagem “Para frente, Springboks!” (um tipo de antílope, símbolo da seleção sul-africana) pintada nas asas. Quem assistiu ao filme Invictus, do diretor Clint Eastwood, conhece essa cena. Em 2014, o Brasil vai sediar uma Copa do Mundo de Futebol, o maior evento esportivo no país em décadas. Em sigilo, o Exército se prepara para tornar impossíveis surpresas como a da África do Sul.

O Exército iniciou uma licitação internacional para a compra de equipamentos de defesa antiaérea. A previsão é gastar de US$ 1,5 bilhão a US$ 4,5 bilhões em mísseis, canhões antiaéreos e radares para proteger contra atentados os estádios durante a Copa das Confederações, em 2013, os 64 jogos da Copa do Mundo de 2014 e as competições das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

ÉPOCA teve acesso a um documento de 15 páginas de 26 de janeiro, com o selo “confidencial”, no qual o Comando Logístico do Exército detalha a fornecedores internacionais o Projeto do Sistema Integrado de Artilharia Antiaérea do Exército Brasileiro (Projeto Siaaeb). “(O projeto é) destinado à atualização do sistema existente, já bastante defasado, com vistas a atender às exigências da Estratégia Nacional de Defesa e às do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro, particularmente em face das obrigações decorrentes da realização no Brasil da Copa das Confederações, em 2013, da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos de 2016”, diz o texto.

Desde que terroristas da al-Qaeda sequestraram e jogaram dois aviões contra as torres do World Trade Center, e outro contra o prédio do Pentágono, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, os organizadores de grandes eventos esportivos internacionais adicionaram a exigência de proteção antiaérea ao planejamento s de segurança.
Nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, o Exército chinês cercou os principais centros de competição, inclusive o Estádio Ninho de Pássaro, com seus mais avançados equipamentos. A intenção dos militares brasileiros é aproveitar a oportunidade aberta pela Copa para modernizar a obsoleta força antiaérea nacional. O Exército pretende comprar cinco baterias de mísseis de médio alcance, mísseis de curto alcance, que podem ser lançados do ombro por um soldado, novos radares de detecção e centros de comunicação.

O investimento inclui a modernização de cinco grupos de artilharia antiaérea, equipados com canhões de 35 mm e 40 mm, adquiridos ainda nas décadas de 1970 e 1980. O Exército também vai comprar canhões antiaéreos de calibre 30 mm e complexos de mísseis de curto raio de ação para os novos veículos blindados Guarani e os velhos blindados M-113, usados na ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Os velhos canhões antiaéreos ganharão novos motores elétricos, geradores e sistemas de comunicação em rede de última geração.

É notório que os equipamentos das Forças Armadas brasileiras estão superados. Nas últimas duas décadas, os governos gastaram pouco em armamentos, o que obriga os militares a reciclar e consertar velharias. Hoje, quatro dos cinco grupos vinculados à 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea, espalhados pelo país, estão equipados com canhões de 40 mm de calibre e centrais que comandam os sistemas de radar e tiro. Eles foram construídos pela Avibras na década de 1980.

O 1º Grupo de Artilharia Antiaérea, no Rio, usa canhões de 35 mm recebidos em 1977. Uma comparação serve também para mostrar a dimensão do despreparo do Brasil, tanto em qualidade quanto em quantidade. Enquanto o Exército e a Força Aérea Brasileira (FAB) são obrigados a compartilhar cerca de 160 mísseis russos Igla (que podem ser lançados dos ombros por um soldado), o Exército da antiga Iugoslávia disparou mais de 1.000 mísseis desses apenas no primeiro dia das operações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Kosovo, em 1999. Na América Latina, os especialistas avaliam que apenas a Venezuela possui uma defesa antiaérea adequada, comprada da Rússia.

O sistema que o Exército quer estabelecer na Copa e nas Olimpíadas empregará cerca de 4 mil homens. A cada jogo, o espaço aéreo perto do estádio será fechado pela Aeronáutica. Cerca de 200 homens estarão envolvidos diretamente na defesa aérea e outros 400 darão apoio. Canhões, baterias antiaéreas e homens armados com lançadores de mísseis serão colocados em posições estratégicas do lado de fora dos estádios.

Em um ponto mais alto, será instalado um radar para detectar qualquer movimento nos céus. Em caso de ataque, os primeiros a entrar em ação serão mísseis antiaéreos de médio alcance, que podem derrubar intrusos a até 12 quilômetros. Se um eventual invasor conseguir passar incólume, os canhões ficarão encarregados do alvo. A última linha de defesa será feita por soldados equipados com mísseis que podem ser lançados do ombro, capazes de atingir alvos a até 5 quilômetros de distância. O tempo de destruição de um alvo não poderá ultrapassar 12 segundos.

Há dois anos o Exército estuda o assunto. Trinta e sete fornecedores foram consultados e 27 empresas da China, da França, dos Estados Unidos, da Suécia e da Rússia responderam. Uma comissão analisa o material recebido das empresas. A assinatura dos contratos está marcada para 16 de novembro. O Exército exige que as empresas concorrentes se comprometam a nacionalizar a produção das armas em oito anos.

Para cumprir o cronograma imposto pela Fifa, todo o sistema precisa estar pronto para operar em janeiro de 2014. Por se tratar de uma despesa para a Copa, a despesa com os equipamentos está livre dos cortes de R$ 50 bilhões do orçamento da União, estabelecidos pelo governo federal. Esse freio segurou, por exemplo, a compra de novos caças para a Aeronáutica e de fragatas e barcos patrulheiros para a Marinha.

Caso não consiga reequipar sua defesa aérea dentro do prazo, o governo terá de contratar um país que preste o serviço. Em 2010, a África do Sul preferiu essa alternativa: pagou cerca de US$ 1 bilhão para as forças armadas de Israel protegerem seus estádios na Copa do Mundo. Mas, por enquanto, essa alternativa ainda não está na mesa.

FONTE: Revista Época

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Mauricio R.
Mauricio R.
12 anos atrás

A mim me parece mta grana, p/ comprar os equipamentos errados, p/ enfrentar a ameaça percebida.

Wagner
Wagner
12 anos atrás

Acabei de ler essa materia na época !!!

Bom, eu recomendo os misseis russos, ideologias a parte, é claro… ah ah ah !!

Vader
12 anos atrás

Reportagem assinada por esse cidadão eu só acredito vendo. Esse é o mesmo cabra que comenta por aí sob o avatar de “Ilha” (algo assim), e que dizia, entre outras trollagens, que o F/A-18E precisou de tanques de oxigênio para acender as turbinas em Leh (Índia)… Enfim, um sujeito sem credibilidade, pra dizer o mínimo. Um antiamericano de marca maior, e um sujeito que faz tudo pra se manter com “boas relações” com o stablishment político; se é que vocês me entendem… Fico surpreso de como a Globo/Época publica uma tolice dessas desse cara. É porque quando se trata de… Read more »

Franz A. Neeracher
Editor
12 anos atrás

Deve ser piada este texto….

Até o Brasil decidir qual modelo vão comprar, transferência de tecnologia, equipamento ser entregue, treinar a tropa e etc; só se for para a copa de 2046…..

Bosco Jr
Bosco Jr
12 anos atrás

A África do Sul precisou da ajuda israelense contando com o Starstreak e com o sistema Cactus (Crotale local)?
Puxa?
Então nós vamos precisar da ajuda dos marcianos.

Alfredo Araujo
Alfredo Araujo
12 anos atrás

Comprar equipamento é mole… Quero ver ter culhões para disparar !!

O que aconteceria se esse 747 estivesse sobrevoando o SoccerCity ano passado ? Vcs acham q os sul-africanos disparariam contra o avião ?
E nós brasileiros ? As FAA abateria um avião de passageiros na mesma situação citada no texto ?

A FAB não abate nem avião recheado de drogas na Amazonia… imagina um avião de passageiros no RJ !?!?

Vader
12 anos atrás

joseboscojr disse:
8 de junho de 2011 às 17:11

“A África do Sul precisou da ajuda israelense contando com o Starstreak e com o sistema Cactus (Crotale local)? Puxa? Então nós vamos precisar da ajuda dos marcianos.”

Esse é o nível das “reportagens” desse cidadão… 🙂 🙂 🙂 🙂

Falar o quê? 😉 Chamem os venusianos… 🙂

Abraço.

Bosco Jr
Bosco Jr
12 anos atrás

Correção:
O sistema Cactus (Crotale) foi desativado em 1999.
Hoje, a África do Sul conta apenas com o Starstreak e canhões de 35 mm, e está implementando uma versão do Umkhonto lançada do solo para sua defesa antiaérea.
I’m sorry!

giordani1974
giordani1974
12 anos atrás

Matéria ao melhor estilo “James Bond – O Amanhã Nunca Morre.”

Tá bom…todo o equipamento necessário e a doutrina se compra no mercadinho da esquina…por favor, o reaparelhamento se realmente ocorre-se já deveria ter começado…é melhor contratar aquela agência americana que atua no iraque para fazer a defesa dos estádios…mui seguro que são…

Antonio M
Antonio M
12 anos atrás

Décadas sem comprar nada e de repente, comprar tudo de uma vez.

No mínimo incoerente ….

Franz A. Neeracher
Editor
12 anos atrás

Galante, uma pergunta:
Esse Pedro Paulo Rezende é o mesmo que participava das nossas listas antes de existir o Blog da Trilogia de Defesa e acabou sendo expulso da lista?

Franz A. Neeracher
Editor
12 anos atrás

Bem que eu eu estava desconfiando……:-)