Federalismo: realidades
por José Celso de Macedo Soares*
Aqueles que se preocupam com a boa organização política do país, os adeptos de que no Brasil esteja em funcionamento legitima Federação, dentre os quais me incluo, vêem com tristeza o centralismo imperante no Brasil de hoje. Esta tendência vem de longe. Um pouco de história. Por ocasião da Constituinte de 1823, os Andradas, figuras dominantes no plenário, propuseram que as bases da organização do país fossem os municípios, numa evidente tentativa de estabelecer a Federação. Foi o suficiente para que o absolutista. Pedro I fechasse a Assembléia e mais tarde promulgasse a Constituição de 1824, totalmente centralizadora do poder. Basta dizer que cabia ao Imperador nomear os Presidentes das Províncias e, fazendo uso de seu Poder Moderador, destituir ministérios que não se “comportassem” bem perante à Majestade. Mais tarde, depois da abdicação de Pedro I, a Regência tentou concertar as coisas editando o Ato Adicional de 1834 que era eminentemente descentralizador, aumentando o poder decisório das Províncias. Durou pouco. Em 1840 os Regentes de então,sob a influencia do Partido Conservador, promulgaram a Lei de Interpretação do Ato Adicional, anulando os efeitos do Ato e voltando à centralização do Poder. E, assim chegamos ao fim do Império.
Proclamada a Republica anunciamos nossa adesão ao Federalismo. “ Estados Unidos do Brasil”foi o novo nome do país.Tentativa de copia da federação dos Estados Unidos. Mas, só no papel. O sistema tributário concentra os poderes nas mãos do Presidente da República. Chegamos à 1930. Revolução.Constituição de 1934. A mesma coisa. As pobres comunas municipais sem recursos. 1937. Estado Novo. Getulio Vargas queima as bandeiras dos Estados. Quer demonstração mais eloqüente de centralismo? Constituições de 1946 e 1988 a mesma coisa. Dos tributos arrecadados, a União fica com 70%, os Estados com 25% e os pobres Municípios, onde moram os cidadãos , com 5%. É a centralização, Estados e Municípios dependendo dos favores do Presidente da Republica, neste orçamento federal autorizativo e não impositivo. Passam-se os anos e o Presidente da Republica nada mais é que o substituto do rei de Portugal, tal as benesses que pode fazer aos pobres Estados e Municípios pois, detêm a chave da bolsa. Daí a corrupção resultante, os “mensalões”, verbas a ONGs ligadas a partidos amigos, ao MST,etc.,etc. Todo governo centralizado tem propensão ao autoendeusamento e a se considerar acima da lei e da moral,como estamos vendo com o governo Lula, “o melhor governo que o Brasil já teve desde Pedro Álvares Cabral.” Sem comentários…
Brasileiros, entretanto, que não concordam com esta situação têm procurado através de instituições, como por exemplo, o “Instituto Federalista”, lutar contra este estado de coisas, procurando estabelecer legitima Federação no Brasil.Não será fácil lutar contra os interesses já estabelecidos. Assim proponho começar por partes,iniciando com a infraestrutura de transportes:
a) Rodovias federais. A conservação dos trechos dentre cada Estado deveria ser tarefa do respectivo Estado. Para isto, a CIDE, imposto criado para tal, deveria ser automaticamente recolhido pelo mesmo. Isto estimularia a competição entre Estados mostrando quais os mais eficientes no assunto. Alem do mais a privatização destes trechos deve ser meta.
b) Portos. A administração dos portos deve caber aos municípios em que estão situados. É o que acontece nos grandes portos do mundo como Rotterdam, Hamburgo, New York, para só citar alguns. Sempre que possível sua administração deve caber à iniciativa privada em regime de concessão;
c) Aeroportos: A administração também deve caber aos municípios onde estão localizados e sempre que possível devem ser privatizados;
d) Terminais ferroviários e rodoviários. A administração deve passar para os municípios e sempre que possível privatizados.
Estas são algumas pinceladas , bom inicio para reforçar a Federação. Mas, mesmo o que aqui proponho nestas linhas, não será fácil. Embora os Estados sejam a favor, a União não quer abrir mão destes poderes. Dão emprego…
Autonomia tributária dos Estados e Municípios, descentralização do Judiciário, são outras medidas importantes e urgentes a tomar. Precisamos de estadistas na vida pública para fazer a Federação funcionar. E estes são escassos no nosso atual meio político. Termino com o que dizia James Clarke: “Um político pensa na próxima eleição: um estadista, na próxima geração”.
José Celso Macedo de Soares é almirante, empresário, escritor. e-mail – 2/2/2009
NOTA DO FORTE: Publicamos esse artigo em homenagem ao almirante José Celso Macedo de Soares, que faleceu no dia 29.1.2012.
Belo artigo! Mas complementaria, no Imperio nao somente os governadores das provincias, mas desembargadores, chefe de policia, etc eram nomeados pelos Imperador (via Ministros).
Um verdadeiro Federalismo irah forcar que os Estados competissem para oferecer melhores servicos com uma menor contra-partida em termos de impostos; caso contrario, familias e empresas poderiam se mudar p/ Estados mais competitivos em termos de servicos. E a conta dos desvios ficaria mais salgada pois seria percebida pelos pagadores de impostos locais, o que nao acontece hoje pois a conta eh dividida pelo pais inteiro.
No mais, recomendo a leitura dos livros do A.C. Tavares Bastos sobre federalismo, “Cartas do Solitario” eh um bom comeco; ele eh meu autor preferido do Sec. XIX.
O Brasil nao tem conserto sem um verdadeiro e profundo federalismo.
[]s!
Artigo irretocável. Perfeito.
Interessante artigo, mas não concordo que a corrupção do Brasil é fruto do modelo de governo centralizado. Basta olharmos nossos estados e municípios e veremos que a corrupção é uma realidade muito próxima. A única maneira de diminuir essa “doença” é com investimentos em educação e o cumprimento das leis com mais rigor.
A corrupção no brasil não é um problema do regime politico de agora, esse sistema corrupto vem desde o inicio do Brasil colonia, pouca gente sabe ou por falta de estudo ou ignorância mesmo disso e triste de ver que tem topetudos que sabem mais sobre a historia dos Estados Unidos, da Europa que sabem mais de Aviões, Navios e brigam entre si pra ver quem sabe mais, e não conhece a historia do próprio país.
E o velho ditado “POVO QUE NÃO CONHECE SUA HISTORIA ESTÁ FADADO A REPETI-LÁ”.
Não adianta falarmos aos mil ventos, que o Brasil e corrupto e tudo mais que vão se mudar desse país, mas a pergunta é o que estamos fazendo pra combater a corrupção desde a raiz o que estamos fazendo pra mudar somente ficar fazendo comentários críticos em sites e Blogs não vão resolver em nada a corrupção.
Não concordo com Saudoso Almirante Macedo de Soares.
O problema não é a centralização de recursos e de poder em Brasília.
Tradicionalmente, o Brasil sempre teve um poder central mais forte. Foi o que nos manteve unidos como um só país, enquanto nossos vizinhos se fragmentavam em pequenas repúblicas instáveis, governadas por um caudilho local.
A existência de um poder central forte no Brasil garante (pelo menos um pouco) de uniformidade e igualdade entre as regiões do país.
Aumentar a autonomia dos entes federados, só serviria para ampliar as desigualdades regionais e a famosa guerra fiscal entre eles, com renúncias fiscais criminosas, sob o pretexto de atração de investimentos.
As tentativas de descentralização do poder central só serviram para criar mais de cinco mil municípios, a grande maioria inviável economicamente. Só existem para servirem de cabide de emprego as pequenas elites locais e para parasitar o Fundo de Participação dos Municípios, formado com o NOSSO dinheiro.
Qualquer verba que venha da União, geralmente é vítima da malversação dos recursos.
Enquanto Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, sofrem com a falta de recursos para transporte, saúde, segurança, etc., um dinheiro precioso é desperdiçado para sustentar municípios minúsculos pelo Brasil afora, que não teriam como se sustentar sem o auxílio dos grandes centros.
Sem falar na tentativa de criação de estados-membros inviáveis (como o caso recente do Pará), que seriam sustentados por todos nós, estúpidos contribuintes.
Entregar a administração de portos, aeroportos e terminais ferroviários seria temerário e ruinoso, em vista da falta de profissionalismo, incompetência e, por que não dizer, malandragem mesmo das adnministrações municipais.
Em Santa Catarina temos um exemplo, o Porto de Itajaí, administrado pelo Município do mesmo nome. Em frente a este porto, do outro lado do rio, existe o PortoNave, da iniciativa privada.
A diferença de eficiência entre os dois é gritante, para não dizer ridícula. O Porto de Itajaí vive na mão dos sindicatos, que param o porto quando querem e causam prejuízos milionários. Já o da iniciativa privada, funciona como um relógio.
Não é o sistema federativo que deve ser alterado.
Há reformas muito mais interessantes e urgentes a serem feitas, como todos sabemos:
– reforma da legislação trabalhista;
– reforma tributária;
– reforma política;
– reforma da previdência.
Prezado Observador,
Infelizmente, minha posicao, neste tema, eh completamente oposta a sua 🙂
Municipios se criam pois passam a receber, automaticamente, parte das verbas federais.
As reformas que vc sugere sao praticamente impossiveis de serem realizadas adequadamente no contexto federal. Toda esta legislacao deveria, na medida do possivel, ser transferida p/ os Estados e municipios. Algumas unidades irao fazer o dever de casa e prosperar, outras nao. Como estah hoje, nada eh feito, e todos perdemos. Por que, por exemplo, a maior parte dos recursos nao sao descentralizados e cada Estado decide a legislacao tributaria mais conveniente? A harmonizacao hoje eh pretexto p/ evitar reducao e corte nos gastos publicos.
Um verdadeiro empresario conquista clientes oferecendo um bom produto com preco baixo devido a competicao, ou perde consumidores. Os Estados (e municipios) deveriam conquistar residentes oferecendo bons servicos publicos com baixos tributos.
Em em termos de corrupcao eh muito mais facil fiscalizar se a conta do “roubo” for dividida por um numero menor de pagadores de impostos. Por exemplo, se um deputado do Estado X aprova uma emenda no orcamento federal p/ construir uma cancha de futebol de salao por R$ 100,000 (super-faturada), ninguem no pais irah se importar, pois este valor foi diluido no bolso de mais de 100 milhoes de eleitores (o que daria um milessimo de real p/ cada). Mas se os proprios moradores dos municipios devem pagar: a) eles irao discutir da real necessidade da cancha de futebol de salao; b) irao entao debater o valor verdadeiro pois a conta agora serah dividida por un numero menor de pessoas e passa a pesar no bolso; c) irao fiscalizar o que foi entregue.
O exemplo eh verdadeiro: fazem alguns anos verifiquei as emendas parlamentares de alguns Estados; eh inacreditavel o que existe de emenda p/ construcao de canchas de futebol de salao, claramente p/ agradar o curral eleitoral do sujeito, que ainda irah desviar dinheiro, pois ninguem se importa de pegar milessimos de centavos.
Um governp forte federal cria um ambiente propicio p/ que existam os “amigos do Rei” e a conta passe desapercebida aos demais.
Quanto a uniao do Pais, Forcas Armadas, diplomacia, por exemplo, permanecem centrais. E pode-se concordar em algum fundo p/ mitigar desigualdades regionais. O que nao pode eh ter um Pais unido pelo menor denominador comum.
O gigantesco Brasil, na minha modesta opiniao, nao tem outra opcao do que implementar um verdadeiro e forte processo de descentralizacao.
[]s!
Sábia palavras do Almirante.