dumbassPor Regis Tadeu

Até que demorou a acontecer…

Já faz muito tempo que venho tendo uma postura absolutamente intolerante com todas as pessoas – incluindo meus fiéis leitores aqui do blog e de minhas redes sociais – que escrevem errado. Não, não me refiro a pessoas que cometem um ou outro erro de digitação, e sim a todos aqueles que escrevem errado por problemas de alfabetização. Faço questão de corrigir todo mundo, muitas vezes de modo sarcástico, justamente para que estas pessoas não venham a ser prejudicadas no futuro, seja em suas carreiras profissionais ou em seus respectivos cotidianos domésticos.
E é justamente o que está acontecendo agora…

Uma imensa parcela dos estudantes que foram muito mal na prova de Redação do último Enem está exigindo uma revisão de seus textos. Até aí, nada contra. Acho que o estudante tem todo o direito de saber onde errou. Há uma série de petições espalhadas pela internet colhendo assinaturas para que seja feita uma representação ao Ministério Público Federal. Se não me engano, uma estudante carioca conseguiu na Justiça o direito de ver a sua redação corrigida. O problema é que esta turma não se conforma – ou não quer acreditar – que tenha ido mal e quer que as notas sejam modificadas. Aí não, né?

Segundo dados do próprio Exame Nacional de Ensino Médio, foram avaliadas mais de quatro milhões de redações no exame de 2012. Deste montante, acredite se quiser, cerca de 75 mil foram entregues em branco! Em branco!!!! Ou seja, o aluno sequer tentou escrever algo a respeito do tema proposto – no caso, “A imigração para o Brasil no século 21” – ou, pior, sequer teve noção daquilo que foi pedido. Uma catástrofe total!

Só que as notícias ruins não param por aqui. Além das redações “em branco”, cerca de 72 mil foram anuladas por não obedecerem aos requisitos pré-estabelecidos, como o de escrever sete linhas de texto – sim, míseras SETE linhas!
Volto a escrever que não há qualquer problema em um aluno saber quais os erros que cometeu. Isto é justo. Só que a questão reside em um ponto muito mais delicado, espinhoso e, por isto mesmo, necessário de apertar: estamos criando uma geração inteira de analfabetos funcionais, que até sabem ler, mas não compreendem o significado das palavras, não consegue interpretar um texto e muito menos elaborar um pensamento coerente em forma de sentenças.

Infelizmente, a juventude brasileira é o retrato fiel do descaso com que a Educação vem sendo tratada ao longo dos anos em nosso País. Ninguém sabe nada. Ninguém consegue interpretar fatos, coletar informações, compreender as circunstâncias, selecionar ideias e oferecer um argumento plausível que venha a sustentar uma opinião. Ninguém consegue sequer pensar por si mesmo…

Sempre que corrijo os erros de meus leitores, a maioria vem com a seguinte desculpa esfarrapada: “não preciso escrever certo (sic) na internet; quando precisar, escrevo certo; aqui é lugar de escrever fácil (sic)”. Pois, toda vez que retruquei dizendo que se você se acostuma a escrever errado, vai continuar fazendo isto em sua vida justamente pelo hábito de cometer estes erros constantemente, fui recebido com grosserias e desprezo. Agora, por ocasião das redações do Enem, as pessoas estão percebendo como o buraco é mais embaixo…

E não pense que estou botando toda a culpa por esta situação nas imbecilidades que as pessoas cometem nos “facebooks” e “twitters” da vida. Infelizmente, tantos as escolas e faculdades quanto o mercado de trabalho em geral preferem ter em suas fileiras gente burrinha e obediente, que não tenha autonomia de pensamento, que saiba apenas decorar aquilo que lhe imposto, sem questionamentos. Com isto, a última coisa que alguém consegue é desenvolver a sua capacidade de raciocínio.

Pense nisto na hora de deixar o seu filho escrever e ler o que bem entender por aí…

FONTE: Na Mira do Regis

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aldoghisolfi
aldoghisolfi
11 anos atrás

PARABÉNS pela presença! Penso do mesmo jeito. Sou do tempo do ginásio, para cujo acesso se fazia uma prova de capacitação, pequeno vestibular. No ginásio estudávamos português, a linguagem, a gramática, o léxico, a semântica, redação, literatura brasileira e líamos os clássicos, em relação aos quais éramos obrigados a fazer uma resenha com análise crítica da obra. Paralelamente estudávamos latim. Quem estudou latim dificilmente escreve errado, pois passou pela linda gramática histórica. Agora, dizer o quê dos jovens que não sabem escrever salvo em orkutês quando um analfabeto fez a pior reforma da língua, que apesar de inculta e bela… Read more »

Vader
11 anos atrás

Estamos criando uma NAÇÃO de asnos…

Giordani
Giordani
11 anos atrás

Dizer o quê? Enquanto isso, dê-lhe bbb, novela e futebol…

MAD DOG
MAD DOG
11 anos atrás

Concordo com todos os comentários acima!!! O assunto é ainda mais delicado, quando imaginamos esses jovens ingressando no mercado de trabalho, substituindo gestores, políticos e demais posições na Nação. Afinal, não ficaremos para semente! Imaginemos o Brasil do amanhã, onde essa geração terá que assumir as responsabilidades de hoje! Imaginem a redução de cientistas, fisicos, químicos, médicos, engenheiros e demais profissionais qualificados! E ainda tem quem diz que a culpa da miséria no Brasil, é dos ricos, países de 1º mundo, etc. Quando que a política da educação pública no país é ditada pelo Governo, que hoje desobriga nas escolas… Read more »

Blind Man's Bluff
Blind Man's Bluff
11 anos atrás

O que é de se esperar de uma população que lê em media miseros 4 livros por ano? É mais facil assistir TV, que por sinal, é muito mais compativel com os assuntos cotidianos do brasileiro: futebol, novela e BBB!

Blind Man's Bluff
Blind Man's Bluff
11 anos atrás

E pior, esses 4 livros por ano, per capita, são lidos por apenas 50% da população, sendo que quase 40% desses leitores brasileiros, só o fazem porquê são obrigados por exigências escolares!