A disputa ideológica que trava o Orçamento dos Estados Unidos e prejudica a prestação de serviços públicos no país parece longe do fim. O presidente Barack Obama rejeitou ontem as propostas republicanas em reunião na Casa Branca. Antes do encontro, ele havia avisado, em entrevista à rede CNBC, que não negociaria enquanto os recursos não fossem liberados. Irredutível, Obama provocou tensão no mercado financeiro, ao expressar seu pessimismo: “Wall Street, desta vez, deveria se preocupar”, disse.

O republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, e principal opositor de Obama, deixou a Casa Branca acusando Obama de intransigente, pois teria se recusado a negociar com os parlamentares. Ele afirmou que a conversa, que durou mais de uma hora, foi educada, mas sem progresso. Segundo o democrata Harry Reid, líder da maioria no Senado, Obama afirmou aos republicanos que “não vai permitir” as táticas usadas por eles.

A líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, assinalou que o presidente norte-americano não abre mão do sistema de saúde que beneficia os mais pobres, o qual a oposição quer derrubar. Ela assegurou ainda que Obama não invocará uma cláusula na 14ª Emenda da Constituição dos EUA, como forma de elevar o teto da dívida país, que será atingido em 17 de outubro.

A partir desse dia, os Estados Unidos ficarão sem dinheiro para pagar suas contas, caso o limite de endividamento não seja elevado. Se o calote se concretizar, as atuais restrições orçamentárias não serão nada perto do estrago que tem tudo para arrasar a economia mundial. Individualmente, o Brasil é o terceiro maior credor do Tesouro norte-americano.

Desde terça-feira, 800 mil funcionários estão de licença sem remuneração em decorrência do impasse em torno do Orçamento. Gastos considerados não essenciais, como a manutenção de atrações turísticas e museus, levaram ao fechamento desses locais. A interrupção do governo, segundo especialistas, pode atrapalhar a tímida recuperação da economia, que, desde 2008, tenta sair do atoleiro.

Irritação
A disputa política começa a comprometer até o funcionamento dos serviços de segurança nacional. A Agência Central de Inteligência (CIA) e segmentos do Exército colocaram parte do efetivo em licença. “Quanto mais durar, pior fica. Estamos perdendo força de trabalho, capacidade. Então, na minha opinião, é importante que resolvamos isso”, afirmou o general Ray Odierno, chefe do Estado-Maior do Exército.

O diretor da Inteligência Nacional, James Clapper, foi além: “Estou no negócio da inteligência há cerca de 50 anos. Nunca vi nada assim”. Segundo ele, a paralisação afeta a capacidade global dos EUA de apoiar os militares, a diplomacia e as questões de política externa. “O perigo é isso acumular ao longo do tempo. O dano será insidioso. A cada dia, o risco aumenta”, alertou. Cerca de 70% dos funcionários dos serviços de inteligência receberam licença.

Temendo deixar uma lacuna na segurança nacional, as agências de espionagem dos EUA planejam chamar de volta ao trabalho parte dos milhares de trabalhadores civis afastados. Clapper, inclusive, já autorizou as 16 agências. A United Technologies, empresa contratada pelo Pentágono, anunciou, contudo, que dará licença não remunerada a milhares de funcionários terceirizados. A companhia agrega o fabricante de motores de aviões Pratt and Whitney e o construtor de helicópteros Sikorsky, cuja expectativa é dispensar pelo menos 2 mil empregados a partir de 7 de outubro. Desde 1996, a maior economia do mundo não enfrentava tamanha paralisia.

Diante do impasse, Obama se disse “muito irritado”. Ele alertou que o país pode caminhar para um calote, no próximo dia 17, caso os impasses, de origem ideológica, se estendam sobre o debate acerca da dívida pública. Desde 1917, quando foi estipulado que o endividamento do Tesouro norte-americano teria um limite definido pelo Congresso, esse teto foi ampliado 104 vezes. Segundo especialistas, a mudança na tolerância ocorria de maneira quase que automática. “Desde que Obama assumiu com um Congresso dividido, essa discussão tem sido utilizada pelos republicanos como forma de fustigar o presidente democrata”, ponderou Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

Desaprovação

A estratégia dos republicanos de prejudicar o governo de Barack Obama não está sendo bem recebida pelos eleitores. Pesquisa realizada pela Universidade Quinnipiac mostra que 77% dos norte-americanos são contrário à paralisia do Estados Unidos. Apenas 22% apoiam o movimento da oposição. O nível de confiança nos republicanos caiu a 17%, enquanto o dos democratas subiu a 32%. A gestão de crise de Obama também é má avaliada: 49% têm uma visão negativa dele. Outros 44%, da Casa Branca.

Reflexo na saúde

A paralisia do governo federal dos Estados Unidos pode bloquear o acesso ao tratamento médico de centenas de pacientes que sofrem de câncer. Mais de 70% dos funcionários do NIH, que administra o maior hospital do mundo, foram colocados em licença sem vencimentos. Embora o Centro Clínico do NIH continue a tratar os pacientes, está operando com 90% da carga normal, segundo uma nota emitida pela instituição. “O NIH não aceitará novos pacientes nem abrirá protocolos durante o período de paralisia”, informou.

FONTE: Correio Braziliense – 03/10/2013

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Wagner
Wagner
10 anos atrás

Tal como eu disse : Os republicanos são O VERDADEIRO MAL que existe neste planeta. Estão ferrando com o próprio país. OS PROPRIOS NORTE-AMERICANOS CONDENAM SEUS ATOS. Não é só o Wagner que discorda deles… O pensamento republicano é míope, arrogante, imperialista, inconsequente, assassino, sujo, obscuro, mentiroso, traiçoeiro e pertence a década de 30. Eu disse que eles eram um problema, mas nãããão, eu é que era o ” bolivariano” … E agora ???? O que me impressiona é que fazem isso pq não querem que um programa de saude universal seja implantado, isso é a coisa mais cretina que… Read more »

giltiger
giltiger
10 anos atrás

IMPASSE IDEOLÓGICO o escambau !!! O que ocorre nos EUA é uma manobra da mais baixa POLITICAGEM ao estilo DEMO ou ex-pfl… Uma obstrução legislativa a lei orçamentária com vista a colocar o GOVERNO E O PAÍS de joelhos para impor uma modificação a lei de saúde (HEALTHCARE) dos Democratas. Os Republicanos perderam a eleição e querem ganhar na MARRA no tapetão. Isto acontece no Brasil TAMBÉM este ano INCLUSIVE, acontece que na NOSSA lei se o congresso não vota a Lei orçamentária se aplica a Lei dos duodécimos em que o governo libera por mês uma parcela orçamentária igual… Read more »