Alexandre Danielli no Afeganistao 1

A história de Alexandre Danielli poderia ser somente mais uma dentre várias sobre brasileiros que viveram clandestinamente nos Estados Unidos. Mas nada na vida deste catarinense é convencional.

ClippingEm 2003, quando decidiu trocar o Brasil pelos Estados Unidos, Alexandre Danielli teve de fazer um jantar entre amigos para angariar fundos. Conseguiu o suficiente para pagar as passagens e levar US$ 200 no bolso. Durante anos, o brasileiro trabalhou ilegalmente em terras norte-americanas, em setores como limpeza e construção civil. Podia ter sido uma história comum. Comum, contudo, é o último adjetivo que pode ser associado à trajetória do catarinense. Ele se alistou nos fuzileiros navais, passou oito meses na guerra do Afeganistão e voltou ao país natal para assumir em maio de 2013 a presidência do Joaçaba, time que havia encerrado atividades em 2011 e não tem sequer um estádio para jogar. Agora, luta contra a insônia e as crises de ansiedade enquanto tenta colocar a equipe na terceira divisão do futebol de Santa Catarina.

Quando embarcou para Atlanta, Danielli sequer falava inglês. O idioma foi a primeira coisa que o catarinense teve de superar. “Eu notei que não iria longe sem isso. Fui trabalhar em uma churrascaria brasileira e comecei a estudar. Assim, consegui traduzir meus créditos e entrei na faculdade de administração de empresas da Kennesaw State Univesity”, relatou.

No quarto ano de Estados Unidos, Danielli foi convidado a trabalhar como gerente de uma churrascaria em Seattle. Lá, começou a namorar uma das garçonetes, com quem se casou e teve um filho (Justus, hoje com sete anos).

O casamento e o filho legalizaram a vida de Danielli nos Estados Unidos. O brasileiro foi trabalhar então como diretor de marketing da montadora Chrysler para as regiões Noroeste e Pacífico dos Estados Unidos.

“As faculdades dos Estados Unidos sempre incentivam os alunos a perguntarem, logo depois de entrar em uma empresa, o que eles deveriam fazer para crescer e chegar ao lugar do chefe. Quando eu tive essa conversa com o meu chefe, ouvi que eu nunca chegaria ao topo. Perguntei se era por ser brasileiro ou por ter sotaque, mas ele respondeu que essas posições eram ocupadas prioritariamente por pessoas com vivência militar”, contou Danielli.

Começou a surgir aí uma ideia que mudaria a vida do brasileiro. No entanto, a vida militar só virou efetivamente um plano em 2007, quando a Chrysler começou a sentir os efeitos de uma das maiores crises da história na economia dos Estados Unidos. Nessa época, o chefe de Danielli reuniu os funcionários e indicou o serviço militar como forma de facilitar a recolocação no mercado de trabalho. O executivo catarinense estava no limite de idade para alistamento.

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“Eu só sabia que existiam Marinha, Aeronáutica e Exército, mas fui estudar e me encantei pelos fuzileiros navais. Vi que eles tinham o treino de recruta mais difícil do mundo, com um dos índices mais altos de suicídios. Fui ficando intrigado pelo desafio”, disse Danielli.

A primeira etapa de seleção foi baseada em investigação. A vida de todos os parentes próximos de Danielli foi avaliada (nenhum podia ter antecedentes criminais ou de terrorismo, por exemplo). Além disso, o próprio empresário foi avaliado (qualquer fratura, cirurgia ou problema médico seria suficiente para torná-lo inelegível).

Aprovado, Danielli passou à prova escrita. Foram 800 questões de várias disciplinas, com índice mínimo de 70% de acerto. E só então o brasileiro chegou ao teste físico, que incluiu corrida, barras e abdominais.

“Fiz tudo isso, mas no primeiro dia eu já me arrependi de ter passado. Eles humilhavam a gente. Durante um mês ou um mês e meio, pegavam o ponto fraco de cada um e levavam ao limite para ver quem desistia”, relatou o brasileiro.

Um companheiro de Danielli desistiu. Em uma madrugada, os recrutas acordaram com o som de um grito vindo de um dos banheiros. Um rapaz que sofria assédio moral constante por estar acima do peso havia se suicidado. Enforcamento com uma corda.

Três meses e meio depois, Danielli concluiu o treinamento e foi mandado para uma base na Califórnia. “Ali você aprende tudo sobre como matar um ser humano. Houve treinos com armas, artes marciais e destroncamento de pescoço, por exemplo. Você aprende onde atirar, estuda estratégias de guerra e convive com diferentes técnicas. Ali eu vi que estava entrando em um negócio para matar gente”, contou.

Oito meses no Afeganistão e o convívio com a morte

Alexandre Danielli no Afeganistao 3

Danielli foi trabalhar no setor de engenharia elétrica militar. Ele passou sete meses aprendendo táticas sobre energia solar e geradores, e depois foi deslocado para outra base em San Diego, ainda na Califórnia.

Nessa época, Danielli conheceu um tenente-coronel. O brasileiro chamou atenção do superior porque dominava português, inglês, espanhol e italiano. Por isso, foi indicado a um grupo de diplomatas militares.

Esse grupo é responsável por restabelecimento de governo em regiões arrasadas pela guerra. Danielli passou um ano estudando pashtu, um dos idiomas falados no Afeganistão, e foi enviado para uma missão em um Estado do sul do país.

A primeira descoberta que Danielli fez no Afeganistão foi um conceito sobre a guerra: “Eu achava que era um conflito apenas dos Estados Unidos contra eles, mas encontrei gente de 35 países da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”.

O segundo ponto foi bem menos positivo: como a água no Afeganistão era racionada, Danielli precisou se acostumar a se limpar apenas com panos úmidos: “Isso quando tinha. Passei meses sem tomar um banho decente”.

Danielli também precisou aprender a conviver com a morte. O brasileiro não sabe quantas em quantas pessoas ele atirou no Afeganistão. “É até proibido fazer isso. As pessoas falam que é para não contar troféus. Isso é crime de guerra hoje em dia”, explicou.

“Eu nem tenho certeza de quando foi a primeira vez em que eu atirei em alguém. Eu acho que foi quando estávamos atrás de um prédio e passamos por uma hora e meia de combate. Quando fomos conferir, havia sete talebans abatidos. Mas não dá para saber quem acertou cada um deles”, continuou Danielli.

O brasileiro também conviveu com a morte de outra forma: ele chegou a escrever uma carta de despedida para os pais e para o filho: “Nós fomos verificar como estavam uns afegãos amigos nossos. Éramos sete homens, e quando chegamos perto notamos que estava tudo abandonado. Fomos nos aproximando, e aquilo era uma emboscada. Nós entramos num buraco e começamos a atirar de volta, o último foi o cara do rádio. Ele tomou um tiro nas costas, e isso afetou toda a comunicação. Cada um de nós tinha umas 50 balas, e nada de o resgate chegar. Nesse momento, o nosso chefe nos chamou e pediu para fazermos um revezamento para as mensagens destinadas às famílias. A munição estava acabando, e aí foi coisa de filme quando chegou ajuda de um ataque aéreo”.

Uma das funções do grupo de Danielli era identificar os corpos dos assassinados, limpá-los e devolvê-los às famílias. Cada morte rendia uma indenização correspondente a dois anos de salários da vítima.

“Por isso que a guerra é tão cara”, teorizou o brasileiro. “Havia um valor para homens, uma taxa menor para animais e um montante menor ainda para mulheres. Era mais barato matar mulheres”, adicionou.

A volta para casa e o complexo de Rambo

“Tive ajuda psicológica durante alguns meses quando voltei aos Estados Unidos. Perdi 50% da audição do ouvido direito e sofri fraturas nas costelas e no pé. Tive vários problemas e acabei recebendo uma indenização”, afirmou Danielli. O brasileiro voltou do Afeganistão em março de 2011.

O tratamento psicológico serviu para amenizar os traumas da guerra. Danielli ainda sofre de insônia e dorme um máximo de quatro horas por noite. Além disso, tem pesadelos e crises de ansiedade. Sem falar na “síndrome do salvador da pátria”, que o brasileiro compara ao que foi retratado no filme “Rambo – Programado para matar”, de 1982, estrelado por Sylvester Stallone.

“Foram anos intensos, com várias missões, e hoje é difícil ficar parado. Você fica muito intenso nas coisas”, relatou Danielli.

O brasileiro deixou o serviço militar em outubro de 2012. Em dezembro, decidiu voltar para casa e assumir a empresa da família. A madeireira em que ele trabalha hoje tem como principal foco a exportação de produtos para os Estados Unidos.

Danielli também dá palestras sobre a experiência militar e presta consultoria a empresas brasileiras que querem exportar para os Estados Unidos. Nesses casos, a vivência costuma ser um importante diferencial do brasileiro: “Eu sempre falo que sou veterano de guerra. Isso abre muitas portas”.

Alexandre Danielli no Afeganistao 2

O esporte: título de 1992, videogame e a presidência

Quando retornou à cidade natal, Danielli encontrou o Joaçaba parado. O time de futebol que leva o nome do município catarinense havia interrompido atividades em 2011.

A relação de Danielli com o time havia começado em 1992, ano em que o Joaçaba foi campeão da segunda divisão do futebol catarinense. O brasileiro estava no estádio, acompanhado do pai.

Nos anos seguintes, como não demonstrou talento para ser jogador, Danielli dedicou muito tempo a jogos de videogame sobre gestão esportiva. Ali ele começou a brincar de presidir o Joaçaba.

Essa brincadeira virou realidade em maio de 2013. Danielli encabeçou uma chapa única e assumiu a presidência do Joaçaba. Desde então, estruturou categorias de base do time, que hoje conta com 120 garotos do sub-13 ao sub-17, em parceria com a AABB (Associação Atlética Banco do Brasil).

O próximo passo é disputar a terceira divisão do futebol catarinense. O campeonato será realizado no segundo semestre de 2014, mas o Joaçaba ainda busca recursos financeiros. “Minha guerra hoje é lutando por esse apoio. Me vejo em uma guerra, encurralado em um canto”, disse Danielli.

O sonho de Danielli, porém, é bem mais ousado: “Pretendo fazer uma ponte para trazer americanos para jogar aqui e levar brasileiros para lá. Os Estados Unidos são o país com mais crianças inscritas em escolinhas de futebol. O Brasil olha para Espanha e Itália no futebol, mas o foco vai mudar para os Estados Unidos”.

Alexandre Danielli podia ter sido um imigrante ilegal entre tantos outros nos Estados Unidos. Ou podia ter criado laços afetivos com um time estabelecido nas principais divisões do futebol brasileiro. Mas não dá para esperar algo comum na trajetória dele.

FONTE/FOTOS: UOL Esporte

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Marine
10 anos atrás

“Complexo de Rambo”…..

Quanto besteirol…. Quanto dramatismo digno de novela mexicana….

Soldat
Soldat
10 anos atrás

Eu sou CONTRA Brasileiro colocar outro uniforme, mas enfim para não arrumar problema com os Pro -Âmis…………………………………deixa pra la……!!!!

Brasil acima de tudo e de todos…………

rsbacchi
rsbacchi
10 anos atrás

Você não deixou pra la!

Você já escreveu o que pensava.

Não é só uma questão de Amis (como escrevem os alemães), também tem brasileiros na Legião Estrangeira.

Bacchi

rsbacchi
rsbacchi
10 anos atrás

Você não deixou pra la!

Você já escreveu o que pensava.

Não é só uma questão de Amis (como escrevem os alemães), também tem brasileiros na Legião Estrangeira.

Bacchi