O Exército Brasileiro mantém aproximadamente 10 mil homens diretamente na proteção das fronteiras na região Amazônica. Foto: CMA-Exército Brasileiro

A preocupação é que aumente a entrada de drogas e armas ilegais depois do acordo de paz entre as FARC e o Governo da Colômbia.

Taciana Moury/Diálogo

O controle e a proteção dos mais de 15 mil quilômetros de fronteira terrestre do Brasil é um desafio constante das autoridades brasileiras. A proteção, feita prioritariamente pelo Exército Brasileiro (EB), enfrenta dificuldades pelas características naturais da região Amazônica. Mas, é na faixa de 1.600 quilómetros de fronteira com a Colômbia que permeia a maior atenção e preocupação do Governo brasileiro atualmente. É que com o acordo de paz firmado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Governo colombiano, as autoridades brasileiras temem o aumento do tráfico, sobretudo de armas e drogas na fronteira.

Segundo o General-de-Exército Theophilo Gaspar de Oliveira, responsável pelo Comando Logístico do Exército, em Brasília, o período de transição logo após a pacificação é muito sensível. O militar, que participou de um processo similar na Nicarágua nos anos de 1990, destacou que os guerrilheiros geralmente não entregam todas as armas como determinado. “Atualmente o maior perigo é a entrada de armas de grosso calibre como o AR15 e o AK47, que chegam ao Brasil e vão em direção às capitais alimentar o crime urbano”, explicou. Para o oficial, essas armas valem muito no mercado negro e são as preferidas do crime organizado.

Patrulhas fluviais são realizadas nas margens do Rio Solimões para combater o tráfico, principalmente de drogas e de animais. (Foto: CMA/Exército Brasileiro)

Para aumentar o controle na fronteira, foi estabelecido um acordo de atividades entre os ministros da Defesa do Brasil e da Colômbia para atuarem em conjunto na proteção através da intensificação das ações na região. “O objetivo é o de promover uma troca de informação de inteligência e do processo de entrega de armas pelos integrantes das FARC. Dessa forma, podemos ter um maior controle para onde elas estão indo e tentar inibir a entrada de armas clandestinas”, explicou o ministro da Defesa do Brasil, Raul Jungman, em entrevista à Diálogo.

Segundo Jungman, o acordo prevê ainda a realização de operações conjuntas na área de fronteira. “A ideia é trabalharmos juntos com o país vizinho e até revezarmos na proteção, se for preciso”, disse. A operação conjunta Ágata das Forças Armadas brasileiras vai ser intensificada e remodelada para ter mais eficácia na proteção. A Ágata ocorre em coordenação com outros órgãos federais e estaduais na faixa de fronteira da Amazônia e tem sido realizada anualmente, por um período determinado. A ideia, segundo o ministro, é aumentar o número de operações durante o ano, sempre com sigilo, para evitar a previsibilidade e garantir um resultado mais eficiente.

Presença militar na fronteira

O General-de-Brigada Antônio Manoel de Barros, chefe do Centro de Operações do Comando Militar da Amazônia (CMA), explicou que para quem está na linha de frente da proteção, o momento da pacificação de um país como a Colômbia sempre gera vulnerabilidade ao país vizinho. “As FARC sempre utilizaram a produção de drogas como fonte de renda. Com a desmobilização pelo acordo, eles podem procurar outras fontes de dinheiro, como a venda das armas utilizadas pelos guerrilheiros, ou ainda a formação de outros grupos criminais”, disse o Gen Brig Barros.

O CMA mantém a segurança na região. São 20 mil homens do Exército divididos em quatro Brigadas, dos quais 10 mil estão exclusivamente na proteção da fronteira e compõem 24 pelotões especiais. O CMA conta ainda com um grupamento de engenharia, responsável por prover a infraestrutura na região Amazônica. Segundo o Gen Brig Barros, a sinergia garante o êxito do trabalho na Amazônia. “Temos que estar sempre atuando em parceria com todos os demais órgãos do governo responsáveis pela segurança, como a Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal, Polícia Militar e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Além disso, mantemos uma excelente relação com a Colômbia, já que temos o mesmo objetivo, que é combater o crime fronteiriço”, reforçou.

O Comando Militar da Amazônia realiza ações cívico-sociais com as comunidades fronteiriças. (Foto: CMA/Exército Brasileiro)

As maiores dificuldades em garantir a vigilância na região são as grandes distâncias e a infraestrutura precária, de acordo com o Gen Brig Barros. “Para chegar a Tabatinga, cidade na fronteira com a Colômbia, só é possível por meio aéreo ou marítimo, e a distância até Manaus, principal centro logístico, é de mais de mil quilômetros”, disse. Ele agregou que o acordo não modifica o que vem sendo executado; ele só intensifica as ações.

Para o oficial, operações militares como a Ágata são muito eficazes. “Durante essas operações conseguimos cumprir uma área considerável. Na Ágata passada, por exemplo, todas as ações terrestres e aéreas realizadas totalizaram mais de 260 mil km, mais de seis vezes a volta ao redor da terra”, contou o Gen Brig Barros. Ele destacou, no entanto, que apesar das dificuldades da missão, é um orgulho poder trabalhar na proteção dessa região do Brasil. “É nossa missão constitucional proteger a Amazônia e é muito bom servir a sociedade e ao meu país”, enfatizou.

Investimento tecnológico

O Gen Ex Theophilo destacou que é necessário investir em tecnologia e equipar os batalhões de fronteira para aumentar a eficácia da operação. Óculos de visão noturna, drones e radares de solo, para rastrear aeronaves que voam abaixo do nível protegido pelo controle do espaço aéreo, são alguns dos equipamentos, que, segundo o general, podem otimizar o trabalho na selva amazônica.

O Gen Ex Theophilo também informou que foram enviados armamentos e equipamentos para o CMA e que o Exército remanejou batalhões para reforçar o efetivo na fronteira. “A Marinha do Brasil também intensificou o controle nas vias fluviais e está atenta no patrulhamento de trânsito das guerrilhas”, disse. Mas, para o militar, o que vai atenuar os crimes fronteiriços é a presença fixa e constante de todas as instituições que devem realizar essa proteção. “Todas as instituições ligadas à proteção da fronteira devem manter equipes constantes, e não só a presença das forças armadas”, enfatizou.

A grande preocupação do Gen Ex Theophilo é a de que a guerra na fronteira alimenta a guerra urbana. “Enquanto não houver um grande aporte de recurso, possibilitando a modernização tecnológica, grandes embarcações e equipamentos, sempre estaremos correndo atrás do prejuízo. Não adianta tomar medidas paliativas. É necessário fazer a fonte secar para as organizações criminosas”.

Ele acredita que as operações militares conjuntas são ferramentas eficazes no combate ao tráfego fronteiriço e anunciou o exercício AMAZONLOG 2017, promovido pelo Comando Logístico, no mês de novembro. O exercício tem como objetivo fazer um mutirão social de ajuda humanitária com foco nos refugiados. “Já estão confirmadas as presenças de vários países, como Argentina, Bolívia, Chile, Canadá, Colômbia e Estados Unidos”, antecipou.

Outros acordos

A preocupação na segurança da fronteira com a Colômbia não é uma exclusividade do Governo brasileiro. O Equador também firmou, em março deste ano, um plano para formular estratégias conjuntas para a segurança e defesa. Segundo informações da Agência de Notícias EFE, o Plano Operativo Anual Binacional foi elaborado com base no trabalho conjunto já realizado pelos dois países e deve proporcionar mais segurança, paz e estabilidade para as regiões fronteiriças.

FONTE: Diálogo

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