Tanques semelhantes aos utilizados pelo Exército Brasileiro são retirados de museus dinamarqueses para ensinar militares ucranianos

Uma coisa é prometer um monte de tanques excedentes ao esforço de guerra ucraniano. Outra coisa é colocar os tanques antigos em condições de funcionamento e treinar equipes para operá-los – especialmente depois que os tanques estiverem armazenados por 19 anos.

O governo dinamarquês aprendeu essa lição da maneira mais difícil depois de um consórcio formado pela Dinamarca, Alemanha e Holanda – e mais tarde Bélgica – ter anunciado em Fevereiro que doaria à Ucrânia uma centena inicial de tanques Leopard 1A5 da década de 1980. Nos seis meses seguintes, o compromisso aumentou para 178 tanques.

São muitos tanques : foram até cinco batalhões. E como cada Leopard tem uma tripulação de quatro pessoas, eles exigem muitos militares. O treinamento de quase mil militares exigiu um esforço intensivo da Dinamarca e da Alemanha. Um esforço intensivo que precisou da ajuda de alguns museus.

Com o consórcio até agora a entregar apenas 10 Leopard 1A5, o treino está em curso – e poderá continuar até 2024, à medida que os aliados de Kiev cumpram o seu compromisso de tanques e treinem quaisquer tripulações de substituição que as forças armadas ucranianas necessitem.

O exército dinamarquês foi o mais recente operador do Leopard 1A5. Ele retirou seu último Leopard 1 em 2005, substituindo o tipo pelo mais pesado Leopard 2. Ainda há alguns ex-tripulantes do Leopard 1A5 seniores na única unidade blindada do exército dinamarquês, o Jutland Dragoon Regiment.

Esses rudes veteranos dinamarqueses formaram o quadro de treinamento e, reforçados por alguns militares dinamarqueses aposentados que se ofereceram para retornar ao serviço governamental, estabeleceram-se no campo de treinamento de Klietz, a oeste de Berlim. A eles se juntaram instrutores alemães com experiência em veículos de engenharia do exército alemão, que compartilham o chassi do Leopard 1.

Os estagiários ucranianos começaram a chegar em maio. De acordo com um comunicado militar dinamarquês, os dinamarqueses assumiram a responsabilidade pela primeira fase do seu treino – o básico. Os alemães assumiram a segunda fase. Tradutores e prestadores de serviços da indústria alemã auxiliam em ambas as fases.

O treinamento é curto: apenas seis semanas. Em contraste, os dinamarqueses treinam os seus próprios militares ao longo de um programa de dois meses. Ajuda o facto de muitos dos ucranianos serem veteranos endurecidos da guerra de 19 meses da Rússia contra a Ucrânia: eles já sabem como lutar num tanque. “Não há razão para lhes contarmos algo que já sabem”, disse um instrutor dinamarquês.

Tendo contratado instrutores, o consórcio também precisava de veículos para os estagiários praticarem. Embora os alemães tenham feito uso dos seus veículos de treino sem torres – que anteriormente treinavam condutores de veículos de engenharia – as fases finais da instrução, incluindo a artilharia, requerem tanques com capacidade de combate.

Mais uma vez, a idade do Leopard 1A5 representou um problema. A maioria dos tanques pertencia, na verdade, à empresa alemã Flensburger Fahrzeugbau Gesellschaft – e estavam guardados num armazém há duas décadas. Eles precisavam de reforma.

Mas o treinamento não esperaria. “É claro que não temos muito tempo, porque é importante que eles [os militares ucranianos] voltem para a Ucrânia e possam ajudar os seus camaradas na defesa da Ucrânia”, disse o major Kim Fonseca, chefe do Estado-Maior da Ucrânia.

Então o consórcio pediu ajuda… aos museus dinamarqueses. Aparentemente, o punhado de Leopard 1A5 em exibição nos museus estava em melhores condições do que os quase 100 armazenados. Três museus emprestaram ao consórcio seis tanques de trabalho “para que o treino dos ucranianos pudesse começar imediatamente”, afirmaram os militares dinamarqueses.

Quatro meses depois, os trabalhadores da fabricante de tanques alemã Rheinmetall estão entregando os Leopard 1A5 remodelados – praticamente de aparência nova – em um ritmo acelerado. Dez estão na Ucrânia, enquanto outros se juntaram aos tanques do museu em Klietz para reforçar o esforço de treino.

A duração do programa de treino depende de quanto tempo a guerra durar – e de quantos Leopard 1 mais antigos os aliados da Ucrânia poderão recuperar nos armazéns de alguma empresa privada ou no único país da NATO que ainda opera os tanques.

FONTE: Forbes