Livros infantis me ajudaram a descobrir o colonialismo, diz Ruy Guerra

Cineasta Moçambicano de 88 anos fala sobre as influencias do herói Sandokan em sua formação
Por Ruy Guerra
O que é a minha maior influência? Certamente o livro que mais me influenciou não é o que eu mais gosto, nem o filme. É difícil saber o que é isso. Se é um amigo, uma paixão.
Mas pensei: há um personagem. De um escritor italiano do final do século 19 chamado Emilio Salgari (1863-1911). Toda a obra dele é infantojuvenil. Seus livros chegavam em remessas mensais a Moçambique, onde eu nasci, em navios que levavam 20 dias para chegar e 20 dias para voltar.
Esse italiano é um cara interessante, porque morreu na miséria com 40 e poucos anos e publicou mais de 90 livros. Era roubado pelos editores. Mas publicou sobre a África, o Oriente Médio, a América, o Caribe. Abraçou o universo da fantasia e da aventura em toda área. É considerado hoje pelos estudiosos um dos precursores da ficção científica: era editado em inglês, francês, português. Bem, mas não me interessa o escritor, e sim o personagem.
Havia um herói chamado Sandokan, que vivia no extremo Oriente asiático, levava uma cimitarra de rubi e vinha de um pequeno feudo. Quando chegava um livro do Sandokan, a cada um ou dois meses, pum, era um alvoroço pra garotada.
Há poucos anos um desses foi relançado aqui no Brasil e eu o reli. É muito divertido ler já com uma bagagem. A linguagem é de uma exaltação, de uma grandiloquência: beber um café é uma aventura. “Avançam no escuro da noite para o meio das trevas”, o vento sempre soprando, as barbas negras como asa de corvo —tudo no pico máximo da tensão.
Lembro que o primeiro livro da série portuguesa foi “Sandokan, o Tigre da Malásia”. Lá no sétimo ou oitavo, veio “A Morte de Sandokan”.
Era tão impressionante a força do livro que me lembro, com 9 ou 10 anos —eu me lembro mesmo— da imagem de mim mesmo sentado nas escadas da minha casa, do térreo para o primeiro andar, aos prantos porque Sandokan tinha morrido. Eu não conheci o meu avô, mas se conhecesse, choraria menos por ele que pela morte de Sandokan.
E na remessa seguinte, veio “A Volta de Sandokan”. Eu pulava de alegria, cantava. Sofri sua morte e em seguida renasci.
Tenho certeza de que não percebi isso com dez anos de idade, mas o que é curioso nessas histórias é a posição anticolonialista. Os heróis de Salgari nunca eram europeus. E eu vivia numa colônia de Portugal.
Os grandes escritores europeus sempre escreveram seus heróis de seu lado. Eles são sempre defrontados com o mundo selvagem da África, dos berberes, dos índios americanos. Já o herói do Salgari luta contra a opressão —é ele e o povo.
Aqueles que escrevem com a perspectiva eurocêntrica, mesmo que o olhar seja generoso, complacente, seu herói é sempre o aventureiro europeu. Nas histórias do Sandokan, os outros são os opressores que vêm para saquear —ou, como era uma fantasia infantojuvenil, para roubar um tesouro.
Essa inversão do olhar foi extremamente importante no ponto de vista da formação de uma identidade. Vivendo num país que é o invadido, e não o invasor, você se identifica mais com essas histórias.
Depois soube que estava muito bem acompanhado. Havia outros que também foram apaixonados na infância pelas histórias de Salgari: Jorge Luis Borges, Umberto Eco, Federico Fellini, Gabriel García Márquez. Não é má companhia.
Noto um elo forte entre Sandokan e o universo de García Márquez: o exagero, a pompa, o deslumbramento, o ímpeto por uma coisa maior do que a realidade. Sinto nele a fantasia daquele universo infantojuvenil —uma subjetividade tal que, sabendo que García Márquez também leu aqueles livros, compreendo sua obra também através deles.
Vejo de uma forma triangular: Salgari, García Márquez e eu, que sou leitor dos dois. Nunca conversei com Gabo sobre isso, apesar de termos conversado sobre tanta coisa. Mas se ele escrevesse algo infantojuvenil, faria algo nas águas do Salgari.
Crescendo com esse encantamento, eu ia me afastando da Europa. Era uma bitola que me levava para ser contra o colonialismo e para descobrir, através da ficção, o próprio colonialismo em que eu estava inserido. Fui marcado de forma inconsciente. É uma paixão tão grande chorar por uma personagem que é impossível que não te deixe marcas.
E isso me deu uma precocidade: comecei a ter problemas políticos muito cedo — aos 15 anos, eu já estava sendo preso por atitudes consideradas subversivas.
Na minha adolescência, ainda estavam muito embrionários os movimentos de revolução em Moçambique e na África do Sul. E eu já escrevia textos acusando a metrópole portuguesa e sendo detido por isso. Ali eu estava a dez anos da leitura do Salgari —claro que com um salto qualitativo— e com a respiração de um Sandokan. Afrontando os invasores coloniais.
Se você me dissesse isso na época eu ficaria ofendido — “pô, me comparando a um personagem infantil” —, mas quando você entra na vida adulta vê que o inimigo é o mesmo de Sandokan. Continuei assim, e continuo, com ele na minha base.
FONTE: Folha de São Paulo
‘Os grandes escritores europeus sempre escreveram seus heróis de seu lado. Eles são sempre defrontados com o mundo selvagem da África, dos berberes, dos índios americanos. Já o herói do Salgari luta contra a opressão —é ele e o povo.’
Simplesmente perfeito!
Coração das Trevas, de Joseph Conrad.
O maior libelo contra o colonialismo já escrito no mundo ocidental.
Início do século XX… escrito por um inglês.
Ainda sei alguns trechos de cor…
O mais engraçado são as pessoas criticarem livros, filmes, revistas, e revistas em quadrinhos, música que vêm de países desenvolvidos, mas, em sendo tão simples, são incapazes de fazer algo que atraia o público. O Brasil, por exemplo, com raríssimas exceções nos últimos tempos, nunca escreveu um livro que fosse um sucesso mundial que pudesse influenciar, nunca conseguiu fazer filmes que preste ( ou administrar as empresas que o faziam, se o fizeram) nem revistas em quadrinhos, talvez com exceção dos de Mauricio de Souza, nem músicas capazes de ganhar o mundo. Com raras exceções. Então começam a chorar que somos colonizados. Mas mal sabem escrever. Eu quero dizer, são coisas razoavelmente fáceis de fazer, mas… Vai lá, escreva um estória em quadrinhos com um personagem favelado destruindo o sistema… talvez faça sucesso…
Ontem mesmo assisti um documentário sobre as disputas entre Taunay e Araújo Porto Alegre.
O primeiro, estrangeiro, retratava com brilhantismo as paisagens e as mazelas do Brasil, como o desmatamento para as plantações de café.
O segundo, brasileiro, era raivoso, vivia criticando os mestres estrangeiros que retratavam o Brasil, sendo que ele pintava um Brasil surreal que, às vezes, nem poderia ser identificado em seus quadros.
Passou décadas tramando contra o artista francês até jogá-lo no ostracismo.
Caraca isso que é depreciar o próprio povo. Tem livro de literatura brasileira traduzido em 69 idiomas mundo afora. Os milhares de estrangeiros que vem curtir o Carnaval deve ser por causa do sexo e das drogas… “Nego” hoje viaja de avião motorizado reclamando, mas queria mesmo era ser lançado de catapulta no avião dos irmãos Wright e planar até o vento acabar… E a manga que eu produzo que vai para o exterior, plantada neste chão xexelento e com pouca química? Uma porcaria, bom mesmo são as mangas de Israel modificadas em laboratórios e repletas de aditivos por que o solo deles não é rico em nutrientes… César Lattes, Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Bartolomeu de Gusmão? Uns “zés-ninguém”.
Sinceramente não sinto um pingo de remorso por que minha cultura misturada de índio, negro e ibero não faz sucesso lá fora, se o cuscuz com bode, o doce de banana, o forró, o licor de umbu, o cordel, a dança de São Gonçalo, o maracatu me fazem bem, o resto que se dane. Como diz o refrão de uma música do Aviões do forró, “se me odeia deita na ‘BR'”!
Você fala das exceções. Apenas lembre-se que a maioria de tais livros brasileiros sempre falam de safadeza, e as invenções, que existem sim, são poucas e centenárias, bem como sim, eles vem curtir o carnaval por causa do sexo e das drogas (qual outro motivo?), e as mangas, sim, você deveria escrever nas mangas que você exporta: “manga grátis – Viva Che!”, enfim, sim as coisas que produzimos podem ser boas, mas são boas apenas para nós. Assim, se eles são “colonialistas” nós somos “egoístas”.
Victor Moraes, de onde você tirou isto de que os “tais livros brasileiros sempre falam de safadeza”? Quais são esses livros brasileiros traduzidos para o exterior que falam sobre safadeza? Jorge Amado? Machado de Assis? Guimarães Rosa? Érico Veríssimo?
Está parecendo que o senhor não tem conhecimento de causa e está jogando coisas ao vento…
E outra, no mercado de agricultura o Brasil é um dos mais competitivos do mundo, não produzimos coisas “boas apenas pra nós”.
Por fim, qualidade não é o maior critério para exportação de produtos culturais, vide as músicas eletrônicas europeias e os blockbusters e a música pop americana (que por sinal só fala de sacanagem).
eu disse “a maioria” dos livros. Precisa citar? E você vem me falar do poder competitivo da banana brasileira! estamos falando de cultura, amigo!
Jorge Amado, quando ele não fala de aspectos sexuais “sacanas”? Machado de Assis, quando ele não fala de aspectos sexuais “sacanas”? Talvez dos que você citou, salve-se só Guimarães Rosa… talvez, eu não me lembro bem… Mas sempre tem uma safadeza… e esta safadeza vai pelo mundo afora retratando o Brasileiro. Infelizmente é a verdade. Além do mais, tradução em várias línguas não significa nada. O que significa é a vendagem e principalmente, a capacidade de influenciar mudanças comportamentais. E o Brasileiro ainda não teve esta capacidade.
Para quem fala de cultura, o senhor parece um tanto desajeitado…
Quando Gustave Flaubert inaugurou o realismo na França, foi um escândalo. Seria a França o “país da sacanagem”?
E outra, Guimarães Rosa tem sim a tal “sacanagem” de que você fala, nem ele “se salva”.
Quanto à agricultura, estava falando da soja, do arroz, do milho. Tais produtos não brotam na prateleira do supermercado. Uma dica para iniciantes é assistir Globo Rural. Conhecimento nunca é demais.
Eu concordo C. Silva, quanto ao Globo Rural, também acho que é um dos melhores divulgadores da ciências (naturais, no caso) do país. Sempre fico pensando como a Globo deixa os seus melhores programas para os horários com menos audiência.
O interessante de textos como esse é que as pessoas acabam mostrando suas grandes influências literárias. Nada contra a Turma da Mônica, gostava muito quando era criança. Mas além dela, me restringindo ao impacto internacional temos Ariano Suassuna, traduzido para, pelo menos, umas 7 línguas como inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês e patrono do saudoso movimento armorial que propunha justamente uma cultura erudita baseada em elemento nordestinos. Isso os conservadores não mostram.
Jorge Amado tem obras traduzidas para 56 países em 48 idiomas e a Bahia de seus livros povoou o imaginário de vários europeus, os russos adoravam.
Machado de Assis é um dos grandes nomes da literatura em língua portuguesa, no nível de Shakespeare, Balzac, Cervantes, Camões ou Dante.
Grande Sertão Veredas tem traduções recentes (de 2017) para inglês e alemão e deve ter sido uma pedreira para traduzir.
Um que já falou mal do colonialistas em suas publicações foi Monteiro Lobato, traduzido para pelo menos uns 11 países. A história do petróleo no sítio do picapau amarelo provavelmente foi lida pela mesma geração atual de generais que está bradando sobre soberania.
O brasileiro pode ter muitos defeitos, entre eles a falta de gosto pela leitura, mas isso não significa que não tivemos muitos compatriotas geniais.
Perfeito, Renato B., excelentes observações.
Quem reclama da suposta falta de escritores de grande cultura no Brasil é muitas vezes quem menos lê.
E olha que eu nem falei em Paulo Coelho, nunca foram meus livros de cabeceira. Dependendo do país, e da pessoa com quem estiver conversando, se descobrirem que você é brasileiro é mais provável falarem em Paulo Coelho do que em Pelé.
O sujeito acredita que 99% do que é produzido em outros países é obra prima, best seller, já no país que ele julga ser o pior do mundo, que tem ele como pior cidadão do mundo 99% é tranqueira. Isso é falta de terapia, ou remédio, sei lá.
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kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
sentiu
Um texto inusitado, mas uma excelente reflexão. A importância do investimento nesses anos iniciais, como os cobertos pela literatura infanto-juvenil já é algo bem descrito pela literatura em economia. E esses anos são importantes justamente pelo impacto que tem na vida adulta.
Não consigo deixar de fazer um paralelo com o filme Bacurau, que achei praticamente um filme de faroeste no cenário pernambucano e, de certa forma, patriótico se você entender que pátria é mais o povo que estado.
Hoje a mentalidade de colonizado e o complexo de inferioridade são constantemente estimulados em nossa sociedade pela mídia e pelos meios culturais(cultura de massa, história, política, publicidade) sempre reverberando um simulacro eurocêntrico(o Eu ideal em sentido freudiano) no imaginário das massas, causando esse sentimento de inadequação ao próprio país e a essa falta de unificação do povo(o brazileiro acaba não se identificando com o próprio povo e por isso busca uma representação externa, o que acaba sendo bastante oportuno para os países que estão de olho nas nossas riquezas)…Uma nação alienada de si mesma é muito mais fácil de ser dominada!…A guerra hoje é pelas mentes, estamos sob um ataque simbólico e semântico muito mais sofisticado do que as investidas bélicas dos eua…
Isso existe e é algo hoje imposto culturalmente ao brasileiro…Algo vindo de fora, propositalmente para fazer com que o próprio povo se deprecie e seja presa fácil do colonialismo(um povo altivo, orgulhoso, não se deixa ser vencido facilmente)…Então isso é feito por influências alienígenas, mas com o intermédio de alguns agentes nacionais, como alguns setores da imprensa por exemplo(claro que existe exceções)…A forma de se dominar um povo continua a mesma, mas é mais sutil…É cultural…!!!…Utiliza o cinema, a música etc…
Oiseau de Proie
Perfeito!
A guerra cultural dos esquerdistas no Brasil só se intensifica, “são resistência” em suas cabeças revolucionárias! Deixando de lado as preferências editoriais e ideológicas do dono do site:
Estamos nos aproximando do bi-centenário da Independência e tem quem ainda creia que o culpado de nossos problemas não somos nós, mas os Portugueses, depois Ingleses e agora EUA.
Na África abundam disputas raciais, religiosas, disputas sem fim de fronteiras, e recursos econômicos, tudo decorrente do colonialismo? Sociedades sem desenvolvimento muitas vezes imersos na barbárie, por conta dos estrangeiros?
Para as Américas e África o caminho mais fácil de se afundar no atraso é culpar os outros pelos seus dissabores, vítimas dos que tiveram sucesso (a inveja e cinismo unidos no discurso do coitadismo).
Enquanto pessoas que apoiam a venezualização do Brasil tiverem poder no país (nos 3 poderes) e na imprensa (mesmo em sites de debate militar) é culpa de toda a sociedade, seja por omissão ou por apoio. Chega desse papinho de vítimas.
Leia de novo o texto que vc não entendeu nada.
Veja como as grandes potências exploram os países subdesenvolvidos :
https://www.youtube.com/watch?v=XSGDVbwVRMU
Esse é melhor,
https://youtu.be/UPt9pGfpmS0
Nosso ouro, nossa prata, nosso trabalho serviram para enriquecer belgas, ingleses, espanhóis, americanos e etc.
Agora a mamata está acabando.
Demorou séculos, mas está acabando.
A maquina de tornear deles, a máquina de solda, a máquina de costura, a máquina de separar grãos, a energia elétrica, o motor a combustão, a máquina de raio x, enfim, as coisas dos colonialistas serviram para nós enriquecer. Será que esta mamata vai acabar?
Dê os equipamentos e as máquinas, mas não deixe que eles criam ou fabriquem as suas próprias.
É assim que o colonianismo funciona.
Americanos? Você não é americano não? Para quem é o maior opositor dos EUA, tem o pensamento na mesma linha!
Os recursos brasileiros, na era colonial, foram para a metrópole, não para os EUA. Estes enriqueceram com méritos próprios (comercializando – mesmo que nem sempre justamente).
O texto é ótimo. Nos faz pensar. Hoje, a “Metrópole Colonialista” são uns poucos indivíduos que, através da máquina política, controlam o acesso a recursos. Quando elegemos um governo de oposição, vulgo esquerda, lá nos idos dos anos 2000, esperávamos, com isso, quebrar essas correntes e igualizar um pouco mais nosso país.
Infelizmente, a “esquerda” se mostrou muito pior que a “direita”… o que eles criaram foi um outro curral que exigia pagamento dos que estavam no poder para não quebrar o status quo, o que nos trouxe para esse exato momento, onde elegemos novamente um governo de direita, na pessoa de um “político apartidário”, para tentar resolver os mesmos problemas… e assim, um erro sucede o outro e, como diria o “Mestre Isaías Camanducáia”, vamo-que-vamo!
Cara, você viaja mesmo…. Uma pena. Será que estás eternamente acorrentado a esse discurso de venezualização, etc? Ainda não conseguiu se libertar desse mantra e pensar por conta própria?
Na esquerda existem muitas ideologias, assim como na direita, pela milionésima vez, não ponham tudo no mesmo saco.
Em outros espaços (fora deste fórum donde não conheço ninguém) constatei que muitos daqueles que se sentem incomodados com semelhante posicionamento de meu comentário o fazem não por divergência histórica, ou mesmo de controle de narrativa (base do debate político), a questão tende também a questões psicológicas.
Proponho a responsabilidade dos agentes por seus destinos mas outros preferem encarar a vida de outra forma: o berço explendido do vitismismo, berço tão quentinho que isenta de qualquer ação prática além de chorar pra ver se um terceiro vem limpar o birrento de suas próprias sujeiras, os fracassos da vida sempre tem a quem culpar, menos a si mesmos.
Inveja e transferência de culpa andam juntas e são manipuladas por correntes políticas revolucionárias.
Pois bem! Os países que tiveram suar riquezas exploradas pelo colonialismo ainda conservaram muito de suas riquezas. Como estão eles após a saída dos colonizadores?
E por que esses países não eram ricos antes de serem explorados pelos colonizadores?
Eles não eram ricos antes, durante e nem o ficaram depois que os colonizadores se foram.
Então, a rigor, não há muito o que falar em exploração já que o que foi explorado não tinha valor para os nativos.
Alguns países até melhoraram. Vejam a Índia hoje. Absorveu grande parte da cultura ocidental e desponta como uma das potências do Século XXI. Não fosse o colonialismo britânico e ainda estariam adorando Kali.
O mundo seria maravilhoso se não tivesse havido o mercantilismo e as explorações marítimas mas o mundo é o que é que não o que idealizamos que poderia ter sido.
O jeito é olhar pra frente e parar de recitar o passado.
A Índia já era potência antes da colonização. 1/3 da economia global antes da revolução industrial se resumia à Índia.
Os astecas eram ricos, basta ver o nível das construções e a quantidade de outo que eles tinham. Era um império que chegou a ir do México até próximo ao Uruguai num determinado momento. E dizer que o colonialismo beneficiou algum povo é fazer pouco caso dos litros e litros de sangue derramado, sem falar nas humilhações.
Pergunte ao índio brasileiro sobre o que ele acha daqueles que colonizaram o Brasil.
Meu, mas vocês são os colonos, você estaria a perguntar, no fundo, o que eles, nativos, acham de si.
Bosco, tu estás enganado.
No século XVI as economias da Índia e da China deixavam a economia europeia no chinelo, mas eles não tinham canhões eficientes nem armas de fogo equivalentes.
O acúmulo de capital proporcionado pela exploração colonial, bem como pelo tráfico de escravos, financiaram a Revolução Industrial da Inglaterra.
Errado, Avanço científicos proporcionados por uma visão de sociedade e mundo mais alinhada a realidade concreta permitiram os europeus navegarem, utilizarem melhor seus recursos, desenvolverem melhores armas e captarem mais recursos que outras civilizações. Acumulo de capital, sem conhecimento de mundo e valores de nada adianta.
Negativo, o senhor está errado.
Até meados do século XVI o Império Otomano fazia frente militarmente a qualquer Estado europeu.
A valorização do pensamento científico e a utilização racional dos recursos estava presente também entre outros povos, entre eles chineses e os otomanos.
A tecnologia naval que levou às grandes navegações tem contribuição árabe e chinesa (o que não tira o mérito dos europeus, evidentemente).
Muitos povos orientais estavam em semelhante capacidade de se lançar em navegações à época em que os portugueses o fizeram.
A grande defasagem tecnológica e militar do Oriente em relação ao Ocidente só se fez significativa em meados do século XVIII.
Há estudos que indicam que o colonialismo na verdade dava prejuízo às suas metrópoles, e ainda dizem que o ouro do Brasil acumulado em bancos ingleses ajudou a financiar a Revolução Industrial, tanto é que nesta mesma época, a capital financeira da Europa mudou de Amsterdã para Londres.
Senhores,
O mundo imaginário de vocês não existe. Não existiam muralhas em volta dos continentes impedindo os europeus de implementar sua navegação em todo o globo. A história é o que é e não o que vocês idealizam.
Seria interessante ver o que teria acontecido se os europeus tivessem horror à navegação e como o mundo hoje seria maravilhoso com os impérios Astecas e Incas e a riquíssima Índia preservados como há 500 anos atrás, mas não foi isso que aconteceu e o mundo funciona assim. Se os europeus não tivessem explorado o globo alguém em algum lugar o faria e a história se repetiria.
Querer comparar o Império Inca , Maia e Asteca e a Índia com a civilização ocidental é ingenuidade. E vale salientar que o grande culpado da derrocada dos impérios na AL foram as guerras entre eles e depois as doenças trazidas pelos europeu.
Jamais os europeus poderiam juntar um exército capaz de conquistar impérios tão bem estabelecidos como vocês querem nos fazer crer.
Negativo, Bosco. Eu não estou idealizando a história.
O que aconteceu, aconteceu. A mentalidade era outra. O que os indianos e os povos americanos faziam era o mesmo: conquistar, guerrear e anexar territórios. Nenhum objetivo altruísta ou libertário.
No entanto, tenho que apontar que não é verdade “que o que foi explorado não tinha valor para os nativos”. Muito pelo contrário, a Índia era uma das ‘nações’ mais ricas de sua época, e abastecia a Rota da Seda com suas mercadorias. Os portugueses só deram a volta na África (investimento de alto risco) para chegar até lá por que, entre outras coisas, o Império Otomano colocava tarifas muitas altas nas especiarias que chegavam ao Mediterrâneo.
Além disto, mesmo com as guerras inter-tribais na América Central, o Império Asteca tinha o domínio praticamente consolidado da região, há muito os Maias já haviam sido subjugados. Os espanhóis reuniram uma coalizão de tribos descontentes em torno de si, sem o que não teriam chance de vitória. A curto prazo isto beneficiou as tribos rivais, a longo prazo significou a derrota das mesmas diante dos espanhóis. As doenças contribuíram, sem dúvida, mas não foram fator único.
Ninguém está dizendo que o mundo seria mil maravilhas sem o colonialismo europeu. Não fossem os europeus, seriam outros, sem dúvida, mas fato é que muito do que o Ocidente é hoje deve-se a exploração colonial.
De modo que não tem cabimento nem a versão de que os europeus foram malvados explorando povos benevolentes e ingênuos que viviam em paz antes da conquista, nem a versão de que os conquistados eram desunidos insubordinados e foram os únicos responsáveis por “se deixarem” explorar pelos europeus.
Muito bom C. Silva…respondeu/argumentou neste post com muita desenvoltura…
Não me leva a mal, Bosco. Eu sou um grande admirador da Civilização Ocidental, de seu genio inventivo e de suas grandes realizações culturais. Se não o fosse, seria um ingrato, porque todo nosso pensamento é produto do legado ocidental.
No entanto, eu também sou justo, e sou obrigado a salientar que a tal “civilização” que os espanhóis foram exportar para as Américas dizimou sociedades extremamente sofisticadas, sociedades que tinham observatórios astronomicos, laboratórios de estudos de sementes, etc. Não viviam em paz e harmonia antes da chegada dos europeus, como alguns querem fazer crer, mas o status quo era de relativa estabilidade.
—
Portanto, se por um lado a Índia deve suas ferrovias a Inglaterra, pelo outro a Inglaterra deve seu status de séculos com primeira potencia na Europa à Índia, que financiou a Revolução Industrial com seu mercado, sua mão-do-obra e seu algodão.
Perfeito Bosco!
Complemento aos colegas
Na Índia as mulheres só passaram a ter mais direitos recentemente, devido a a absorção de elementos da cultura ocidental. Ainda hoje continuam sendo atacadas com ácidos, mas está diminuindo.
Os “Dalitis” casta inferior, também passaram a poder ter acesso a empregos melhores,e deixar subempregos mais recentemente.
Desde que os muçulmanos chegaram lá não houve tantos melhoras nos direitos humanos.
Houve guerra e escravidão entre os vários povos que formaram a atual Índia durante milênios, muito antes de qualquer colonização ocidental.
Os astecas sacrificavam milhares e milhares em rituais todos os anos. Prisioneiros de guerra, castas inferiores, etc.
Nossos índios viviam em guerra da mesma maneira, entre várias etnias.
As mesmas coisas com os povos da África.
A ideia que essas regiões eram paraísos idílicos antes da chegada dos europeus é tão distante da realidade, quanto o céu é “vermelho”.
Os europeus desenvolveram e evoluíram de maneira mais abrangente que todos as outras culturas (ainda que com grandes falhas e ao longo de muito tempo), noções de direito a vida, valorização da mulher e da criança, não divinização de seres ou coisas (oriundas do cristianismo), bem como estado de direito, igualdade perante a lei, propriedade privada e economia de mercado.
Foram esses valores permitam uma organização de sociedade e desenvolvimento da ciência e economia que permitiram eles tomarem a dianteira na civilização. Qualquer outro país que também adote esses valores, passam a se desenvolver melhor, seja colonizado ou não. Ponto.
Houveram coisas horríveis durante a colonização, é óbvio, mas o mundo como Bosco disse nunca foi um paraíso e os colonizados não viviam num paraíso idílico e mesmo com toda imperfeição intrínseca ao ser humano, vários bons valores, conhecimentos científicos e noções econômicas e de organização, foram aproveitados por estas sociedades e ajudaram elas a evoluírem após colonização.
PS.: Aos que colocam culpa de tudo na “colonização”, lembrem-se no que eram Hong Kong, Singapura, e tantos países que não tem territórios/recursos, e no que se tornaram hoje mesmo sendo colonizados….
Nessa época em que harry potter e dia das bruxas estão tão presentes, essa leitura sobre a força dos livros infantis vale a pena. Infelizmente hoje nossa cultura parece estar indo para o ralo, Saci Pererê, o Negrinho Pastoreiro entre tantos outros em suas respectivas regiões vão desaparecendo, assim como nossas festas religiosas que guardam muitos elementos como a culinária e hábitos dos diversos imigrantes (inclusive negros, que vieram a força) que as trouxeram estão se acabando. Espero muito que o Brasileiro se redescubra, que possa ler e apreciar o melhor do que vem de fora e do que há aqui dentro.
O povo que ignora a Seu passado não tem futuro.
Por falar em colonialismo, lembrei da visita do Secretario de Defesa dos EUA, James Mattis, em Agosto do ano passado, justamente pra contrarrestar o aumento da influência chinesa por estas bandas. Não lembro bem, mas deve ter havido os protestos corriqueiros das esquerdas tupiniquins contra a ousadia imperialista ianque. Bom, na manhã do dia anterior a 7 de Setembro deste ano, o Ministro da Defesa da RPC, Wei Fenghe, se reuniu com nosso MD. Quase ninguém noticiou e menos ainda protestou, tudo muito discreto que foi esse handshake com a nossa verdadeira metrópole (nosso maior ‘parceiro comercial’). Mas as memorias de Guerra sobre Sandokan ainda deve fazer a cabeça de alguém. Em algum lugar…
Em tempo, Os Fuzis é um clássico. Pena que se prefira falar de revolução e consciência social do que da contribuição específica de Guerra ao cinema.
Sobre onde diabos o autor escreveria sobre aventuras em locias tatalmente desconhecidos inospitos e exoticos?
Tudo é arredondado pra dominacao!!!
O mais engracado é q quando um pais, q inclusive tentou dominar o Brasil, escreveu e se pronunciou contra nos e nossa soberania, os mesmos cagalhoes q falam do absurdo da colonizacao foram contra nós….
Não tem como não culpar os europeus pela tragédia que se abateu sobre a África. Eles se retiraram de lá, dividiram o território de acordo com o lobby das elites locais e não levaram em consideração as milhares de etnias que lá existem, forçando muitas a conviver contra a vontade delas. O resultado foi os inúmeros conflitos territoriais e étnicos que trouxeram a fome, o desalojamento, a imigração e as doenças. Para completar os soviéticos e seus aliados se aproveitaram da situação para obter proveito de facções locais que estavam no poder, agravando o quadro.
Numa situação dessas investidor nenhum vai querer investir numa região onde num dia uma gangue sanguinária comanda o país, e no outro é outra gangue.
O colonialismo europeu pode ter sido uma droga mas podia ter sido pior, se em vez dos europeus fossem astecas ou mongóis os conquistadores.
Os astecas sacrificavam seus escravos com um ano de serviço arrancando-lhes o coração vivo (isto sim é escravidão genocida).
Já os mongóis praticavam o estupro rotineiramente como uma obrigação descrita em sua legislação.
Os judeus consideravam a escravizar prisioneiros um direito e o estoque de crueldade do império romano era imenso. Não tem santo nessa história. Se o mundo fosse diferente acharíamos normal os endinheirados estudarem chinês ou sanscrito e o Silvio Santos provavelmente teria uma casa de verão em Mumbai.