The Guardian: contra-ataque ucraniano em Sievierodonetsk também contou com brasileiros

A Ucrânia encenou um contra-ataque na cidade de Sievierodonetsk , na linha de frente, e recapturou um quinto da cidade que havia perdido anteriormente para os invasores russos, segundo o chefe da região.

Serhiy Haidai, governador de Luhansk, disse que as forças russas estão desistindo das conquistas recentes na cidade, pois também surgiram relatos de combatentes estrangeiros se juntando à batalha pela cidade mais oriental de Kiev, no ferozmente contestado Donbas.

O governador disse à televisão ucraniana que a Rússia havia “conseguido anteriormente capturar a maior parte da cidade” – mas acrescentou em um tweet que os militares os empurraram para trás em 20%. “Eles estão realmente sofrendo grandes perdas”, disse ele.

As alegações são difíceis de verificar em meio aos intensos combates. Os russos concentraram suas forças na tentativa de cercar e capturar a cidade nas últimas duas semanas, avançando a uma velocidade de 500 metros a um quilômetro por dia.

Os ucranianos que lutam na linha de frente oriental estimaram que suas forças controlavam “cerca de 30%” de Sievierodonetsk no sábado, mais do que algumas estimativas aproximadas do final da semana passada. Eles disseram que as forças russas estavam ficando sem tropas de infantaria e eram incapazes de avançar.

Slava Vladimirovich, um soldado ucraniano do batalhão de Donbas, disse que o Exército Russo estava atacando a cidade vizinha de Lysychansk.

Dois civis morreram em um ataque de artilharia russa, disse ele. Milhares de civis ainda estavam na cidade, mas muitos pareciam relutantes em sair. “Nós deveríamos evacuar dez pessoas. Apenas três apareceram. Os pobres têm medo de perder o pouco que têm. Não há água na cidade e longas filas de civis esperando nos pontos de distribuição.”

Combatentes estrangeiros de países como Austrália, Geórgia, França e Brasil também estavam sendo mobilizados pela Ucrânia em Sievierodonetsk, de acordo com uma reportagem em vídeo que circulou amplamente. Ele apresenta uma entrevista com um soldado mascarado, que disse ser da Austrália, dizendo que havia “intensificado” para se juntar aos combates.

Um segundo soldado, falando inglês com sotaque americano, disse que era “um garoto de 22 anos” da Geórgia e prometeu ajudar a empurrar os russos de volta. “Estamos do lado certo da história”, acrescentou.

Mas os riscos para combatentes estrangeiros em um conflito brutal e mortal continuam consideráveis. A Legião Internacional da Ucrânia reconheceu no sábado que quatro pessoas da Holanda, Austrália, Alemanha e França foram mortas.

Ele os nomeou como Ronald Vogelaar, Michael O’Neill, Björn Benjamin Clavis e Wilfried Blériot. Vogelaar, de 55 anos, foi informado anteriormente pela mídia holandesa de ter sido morto por fogo de artilharia perto de Kharkiv no mês passado; enquanto O’Neill, 47, foi considerado um trabalhador humanitário quando foi relatado que ele havia sido morto no final de maio.

Enquanto isso, Blériot, 32, apareceu em um filme no início de março, onde disse à publicação argentina Clarin que estava “pronto para morrer” ao sair da Polônia. Ele disse que passou “um ano no Exército Francês” e chorou quando falou sobre seus dois filhos pequenos.

A Rússia quer capturar Sievierodonetsk, que tinha uma população de 100.000 habitantes antes da guerra, e Lysychansk, que fica do outro lado do rio, para completar a captura do oblast de Luhansk, uma das duas regiões de Donbas reivindicadas pela Rússia.

De lá, eles esperam capturar as cidades ucranianas de Slavyansk e Kramatorsk no vizinho oblast de Donetsk.

Explosões altas podem ser ouvidas do centro de Slavyansk no sábado, da artilharia russa à distância e da resposta ao fogo ucraniano. A sirene de ataque aéreo da cidade disparou repetidamente.

Algumas pessoas estavam nas ruas de Slavyansk comprando comida. A cidade está sem gás e água e tem eletricidade intermitente. Muitos moradores foram embora, mas alguns ficaram para trás e outro grupo retornou às cidades da linha de frente de Donbas depois de fugir e ficar sem dinheiro.

Uma igreja ortodoxa russa de madeira, perto do mosteiro de Sviatohirsk, cerca de 20 quilômetros ao norte de Slavyansk, foi fotografada em chamas como resultado dos combates. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy , disse que quatro pessoas morreram e quatro ficaram feridas após um ataque russo. Trezentas pessoas, incluindo 60 crianças, segundo Zelenskiy estariam abrigadas no complexo do mosteiro.

A inteligência de defesa britânica disse que a Rússia conseguiu combinar “ataques aéreos e fogo de artilharia em massa para trazer seu poder de fogo esmagador” e assim apoiar “seu avanço rastejante”.

Mas os britânicos disseram que isso teve um custo. O uso de “munições não guiadas levou à destruição generalizada de áreas construídas no Donbas”. Um filme divulgado por Haidai, o governador de Luhansk, no início do sábado mostrou prédios de apartamentos danificados e em chamas, enquanto os bombardeios eram audíveis nas proximidades.

Haidai reconheceu que a situação para os ucranianos em Sievierodonetsk continua difícil, mas disse acreditar que os defensores podem aguentar por mais duas semanas. Uma vitória russa nessa escala de tempo “não era realista”, acrescentou.

Depois disso, disse o governador, ele espera que os recém-prometidos Himars ocidentais – sistemas de foguetes de lançamento múltiplo – possam pender a balança a favor de Kiev, permitindo que a Ucrânia alveje os russos a uma distância maior do que antes.

“Assim que tivermos armas ocidentais de longo alcance suficientes, empurraremos sua artilharia para longe de nossas posições. E então, acredite, a infantaria russa, eles simplesmente fugirão”, acrescentou o governador.

O líder checheno, Ramzan Kadyrov , disse na sexta-feira que foi informado pelo ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, que a Rússia agora “acelera” a invasão. Novas táticas que “permitirão aumentar significativamente a eficácia das manobras ofensivas” foram identificadas, acrescentou Kadyrov.

Mas em uma avaliação da noite para o dia, o Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank americano que acompanha de perto o conflito, disse estar cético sobre as alegações feitas. Ao acelerar o ritmo de avanço, o instituto disse acreditar que “é improvável que as forças russas sejam capazes de fazê-lo” .

As autoridades russas começaram a emitir passaportes em Kherson e Melitopol na sexta-feira, segundo o instituto. Os militares da Ucrânia disseram que os ocupantes russos enfrentam uma resistência crescente na região sul, o que forçou Moscou a reforçar suas tropas lá.

FONTE: The Guardian

NOTA DO EDITOR: informações ainda não confirmadas por fontes independentes indicam que as forças ucranianas já retomaram toda a cidade deste domingo.