Lula é recebido por israelenses e palestinos e defende pressa na negociação entre os povos

Viviane Vaz

vinheta-clipping-forteEm sua passagem pelo Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está vendo de perto como é difícil agradar a israelenses e palestinos. Ontem, em seu último dia de visita a Jerusalém, foi abertamente criticado pelo chanceler israelense, Avigdor Lieberman, por não ter visitado o túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl. Do lado palestino, Lula foi cobrado pelo grupo islâmico Hamas por não incluir a Faixa de Gaza na viagem presidencial, enquanto a ONG Stop the Wall (Detenha o Muro) pediu que o brasileiro rompa as relações comerciais com Israel. “O Brasil deverá decidir entre negociar com Israel e suas armas ou posicionar-se ao lado dos palestinos, dos direitos humanos e da democracia e cortar as relações militares com Israel”, afirmou o ativista Jamal Juma.

Lieberman — apesar da crítica e do boicote à reunião no Parlamento e ao jantar oferecido a Lula — elogiou a viagem do presidente a Israel. “A visita foi um sucesso, com encontros bem-sucedidos e frutíferos”, disse o chanceler, ressaltando “que existem regras do Ministério do Exterior que devem ser respeitadas”. “(As autoridades brasileiras) recusaram-se a visitar o túmulo de Herzl desde o começo. E um homem que se nega a visitar o túmulo de Herzl e vai depositar flores no túmulo do (líder palestino Yasser) Arafat é coisa que não posso aceitar”, completou.

Lula visitaria o túmulo de Herzl, mas o compromisso, segundo o Itamaraty, não foi incluído na agenda por falta de tempo. Durante o dia, o presidente foi ao Museu do Holocausto (Yad Vashem), criado para lembrar o genocídio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler na Segunda Guerra, entre 1939 e 1945. “A humanidade deve repetir todos os dias, quantas vezes for necessário, ‘nunca mais, nunca mais, nunca mais’”, destacou Lula, depois de depositar uma coroa de flores em memória das vítimas. “Eu acredito que a visita ao Museu do Holocausto deveria ser quase obrigatória a todo ser humano que quer governar uma nação”, completou, ao lado da mulher, Marisa Letícia, e do presidente de Israel, Shimon Peres.

O rabino Israel Lau, diretor do museu e sobrevivente dos campos de concentração, pediu a Lula para conseguir-lhe um encontro com o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. “Na condição de criança de Buchenwald, quero me reunir com ele para que ouça meu testemunho e para que eu possa provar que ele está errado em negar a existência da Shoah (Holocausto)”, afirmou Lau.

Depois de visitar o museu, Lula foi ao Bosque de Jerusalém plantar uma árvore, como fazem todos os chefes de Estado que passam por Israel. “Pode ficar certo que muito feijão que vocês comerão fui eu quem plantei”, brincou Lula com os jornalistas presentes. Em discurso oficial, após a cerimônia de plantio, Lula comparou os 360 milhões de hectares da Amazônia aos 27 milhões de hectares de Israel e defendeu o compromisso brasileiro acertado na Conferência do Clima, em dezembro, em Copenhague. “Até 2020, nós vamos diminuir o desmatamento na Amazônia em 80%, o que é um feito muito arrojado e é um compromisso do meu país”, disse.

No início da tarde, Lula foi recebido pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na cidade de Belém, território palestino da Cisjordânia. “É indispensável a necessidade de coexistência entre os estados de Israel e da Palestina. E o mundo tem pressa”, discursou Lula a empresários brasileiros e palestinos. “Eu converso com palestinos e eles dizem que as negociações estão boas. Eu converso com os israelenses e eles dizem a mesma coisa. Mas, claramente, há algo errado”, disse. O presidente foi aplaudido ao defender um acordo entre o Mercosul e a Autoridade Palestina. Hoje, Lula vai a Ramallah, violenta capital administrativa palestina. Ele inaugurará uma rua chamada Brasil e vai visitar o túmulo de Arafat —líder palestino criticado e elogiado por mais de quatro décadas ao defender um acordo com os israelenses.
É indispensável a necessidade de coexistência entre os estados de Israel e da Palestina. E o mundo tem pressa”

Garcia chama boicote de “descortesia”

Para o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o boicote do ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman, a eventos dos quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou em Israel foi “uma descortesia”. A atitude do chanceler israelense foi uma reação ao fato de a comitiva brasileira ter recusado o convite para visitar o túmulo do húngaro Theodor Herzl, o fundador do movimento sionista.

Em Jerusalém, Garcia lembrou que quando o ministro israelense veio ao Brasil no ano passado, “o presidente Lula o recebeu com a maior cortesia, e chegou a abrir uma exceção, porque normalmente presidente recebe presidente e seria de praxe que o chanceler tivesse sido recebido pelo nosso chanceler”. “Portanto, podemos classificar a atitude de Lieberman como um ato de descortesia”, disse Garcia. No entanto, o assessor especial avaliou que a questão não comprometeu “o sucesso da visita a Israel” e a viagem oficial conseguiu, apesar da divergência, aproximar os dois países. O assessor também explicou que a visita não estava prevista na agenda previamente acordada.

Este ano, o governo israelense comemora o aniversário de 150 anos do nascimento de Herzl, que fundou o movimento político que defende o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado judaico. Em 1975, o Brasil votou a favor da Resolução 3.379 da Assembleia Geral da ONU, que aprovou considerar o sionismo uma forma de “racismo e discriminação racial”. A decisão foi anulada em 1991, com a aprovação da Resolução 4.686 da assembleia, que recebeu apoio do Brasil.

FONTE: Correio Braziliense

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OTV
OTV
14 anos atrás

Como eu disse antes:

política exterior, ainda mais no oriente médio, não é para amadores.

Alex Nogueira
Alex Nogueira
14 anos atrás

Como se o Brasil e a América do Sul já não tivessem problemas demais para resolver. O Brasil não pode e nem deve ficar se intrometendo em assuntos alheios, não adianta querer fazer como os EUA, o nosso presidente deveria ir visitar o RIO ou as Comunidades de SP para ver o quanto existe há para fazer por aqui….. sinceramente essas viagens politicas são mal uso de dinheiro público. DE quebra ganhamos a antipatia de 2 povos que estão em guerra a séculos….

Valter
Valter
14 anos atrás

Nao conseguiu resolver o caso Zelaya,nao vai conseguir resolver esse conflito tbm,mas talvez faca ele andar pelo menos um pouco,embora acredite que esse conflito nunca vai se resolver,agora deixar de visitar o tumulo do pai do sionismo,ao meu ver foi uma indelicadeza de Lula,ja que quer mediar,nessa primeira viagem deveria ter visitado,seria um modo positivo de comecar as coisas,agora é meio contraditorio,um voto de um brasileiro foi o que “criou” o estado de Israel,o primeiro presidente brasileiro a visitar Israel nega a visitar o tumulo do “fundador”,parece meio que negar o ato feito.ja quanto aos palestinos,enquanto tiverem grupos terroristas vai… Read more »

mauro dias
mauro dias
14 anos atrás

Do blog cidadania ‘Gafe’ seria Lula homenagear Herzl O blogueiro de José Serra Ricardo Noblat noticiou “em primeira mão”, na noite de ontem, a informação de que Lula, em visita a Israel, teria cometido “mais uma gafe” por ter se recusado a depositar flores no túmulo de Théodor Herzl, fundador do movimento sionista, que criou o Estado de Israel. Foi o que bastou para a horda de trolls do tucano invadir a internet com uma versão inexplicável dos fatos, o que requer esclarecimentos. O Sionismo visou estabelecer o Estado judeu na Palestina, onde havia e continua havendo uma população autóctone.… Read more »

Thomas
14 anos atrás

“Do blog cidadania
‘Gafe’ seria Lula homenagear Herzl”

Ahhh … nada como ler um pouco de Anti-Semitismo explicito, ao inves do velado, fazendo de opiniões fatos e distorcendo fatos a vontade.

Antonio M
Antonio M
14 anos atrás

Pois é como foi dito, tratar desse assunto não é para amadores.

E se essa questão ainda for tratada como se um lado é bonzinho e o outro é malvadinho, aí que não chegarão a lugar nenhum mesmo.

RL
RL
14 anos atrás

E dizem por ai que o Lula pleiteia um futuro cargo de Presidente da ONU.

Será?

mauro dias
mauro dias
14 anos atrás

Caro Thomás,
Você interpreta o que lê?
Ter uma opinião sobre o equívoco de política de Israel para região, não significa anti-semitismo.Caso aja opiniões claras e fundadas em fatos, seria anti-semitismo? Para mim este tipo de argumentação seria de sofisma.
O que se quis demonstrar na matéria acima , foi exatamente isso.O povo palestino, que habita aquelas paragens , não tem nada a ver com radicais que se imiscuem , para fugir as ações do estado de Israel.
Estamos falando de limpeza étnica.
Lula soube muito bem evitar uma agenda de última hora.
Abraços

Rosan Amaral
Rosan Amaral
14 anos atrás

Às vezes vejo contradição na maioria das opiniões aqui neste blog. Afinal, o Brasil é um pais continental, uma potência econômica mundial, e vêm algumas opiniões afirmando que devemos olhar apenas para nosso umbigo? Até o presidente de Israel pediu para o Brasil intervir no processo de paz e ajudar na locução com a Síria. Temos que ter participação nas relações exteriores proporcional ao tamanho do nosso país, da nossa nação, da nossa economia sim. Espero que os futuros presidentes tenham a mesma atuação e continuem a dar condições materiais para que nossas forças armadas estejam preparadas para tais desafios.

Felipe Cps
Felipe Cps
14 anos atrás

“O blogueiro de José Serra Ricardo Noblat…”

Já se vê de cara a “isenção” do cidadão… coisa de petista…

Excel
Excel
14 anos atrás

RL,
Li essa história na Veja.
O Lula nem sequer fala inglês … como ele pretende dizer “nunca na história deste país … ” em inglês??, ou será “nunca na história deste planeta”??

mauro dias
mauro dias
14 anos atrás

Caro amigo Felipe cps
Não se trata de isenção ,trata-se de fatos inquestionáveis.
Se houver alguma linha no artigo que seja inverídico, distorcido , ou fora de contexto, questione, mas com fundamentos.
Abraços.

humberto
humberto
14 anos atrás

Como já foi dito aqui..Fazer o que lá? Para o Hamas, enquanto existir o odio contra os Israelenses, mais eles vão crescer e se fortalecer, ou seja, não querem a paz. Irã que auxilia o Hamas quer ver o circo pegar fogo. O atual governo Israelense também não deseja a paz (é só ver que permitiram a construção de mais casas no território palestino). Os gringos vão apoiar os Israelenses (pois o Loby Judeu é fortissimo no congresso Americano) de qq forma. Dizem que de boa vontade o cemiterio está cheio… Se os caras não querem a paz, fazer o… Read more »

Alexandre G.R.S.
Alexandre G.R.S.
14 anos atrás

Prezado Mauro Dias,

Excelente comentário. Tenho ascendência judaica e me sinto envergonhado com a política adotada por Israel.

Sds.

brazilwolfpack
brazilwolfpack
14 anos atrás

Boa sorte,Lula…

Defourt
Defourt
14 anos atrás

Vai precisar Sr. Presidente…

brazilwolfpack,

Por que esse avatar de uniforme Nazista e justo das “SS” que eram responsáveis pelo plano denominado “Solução Final”?

Felipe Cps
Felipe Cps
14 anos atrás

mauro dias em 18 mar, 2010 às 11:45

“Se houver alguma linha no artigo que seja inverídico, distorcido , ou fora de contexto, questione, mas com fundamentos.”

Não Mauro, me desculpe, mas tenho mais o que fazer do que ficar respondendo a petistas notórios.

Sds.

mauro dias
mauro dias
14 anos atrás

Sim Felipe . é bom.
Contra fatos não há argumentos.

Felipe Cps
Felipe Cps
14 anos atrás

Mauro, o que quis dizer é que tenho mais o que fazer do que ficar discutindo visões políticas de mundo. Aliás, esse não é o fórum adequado para tanto.

Você não me vê aqui colacionando textos do Reinaldo Azevedo ou do Olavo de Carvalho. O sujeito que você tanto aprecia (um ilustre desconhecido, by the way) perde a credibilidade na primeira frase do texto.

Sds.

Ozawa
Ozawa
14 anos atrás

Realmente, a política exterior nesse lado do mundo, não é coisa para neófitos…

Não comporta nem a ingenuidade risível de alguns líderes, tampouco as hipérboles da retórica acadêmica de outros…

Antes de mais nada, para mediar tal conflito, há de se ter uma indiscutível autoridade moral, isenção política e personalidade diplomática, conquanto não subserviente, para ser aceito pelas partes, combinado com sólidos e profundos conhecimentos históricos do Oriente Médio.

No mundo contemporâneo, dentre todas as lideranças mundiais que se apresentam, não vejo nenhuma que combine tais atributos.