Por Guilherme Poggio

Travessia de vaus

Na sua configuração básica o LMV é capaz de cruzar cursos d’água com até 0,85 m de profundidade, graças ao seu sistema elétrico à prova d’água. Com o uso de snorkel para o sistema de admissão de ar, assim como de extensão para os gases de exaustão, é possível atravessar cursos d’água de até um metro e meio de profundidade, segundo o fabricante. Quando foi fotografado em Sete Lagoas, o protótipo do LMV estava equipado com o snorkel, mas não possuía a extensão para os gases de exaustão.

Detalhe do snorkel do protótipo do LMV sendo ensaiado na pista de provas da IVECO em Sete Lagoas. Observar também a robustez da dobradiça superior (terceira dobradiça) da porta. Este item foi adicionado ao LAV 4 (quarta e mais recente evolução do LMV padrão) encomendado pela Noruega e também faz parte dos itens fornecidos no LMV2.

Tripulação e carga

O LMV foi desenhado para uma tripulação de quatro combatentes e mais um motorista (no total de cinco ocupantes). Este é um dos Requisitos Operacionais Absolutos (ROA) do EB: “transportar uma guarnição constituída por, pelo menos, 5 (cinco) homens, incluindo o motorista e o atirador”. Mas há também usuários que optam por adicionar diversos equipamentos (principalmente de comunicação e controle) e utilizar o veículo apenas para quatro ocupantes. No caso do modelo com cabine curta (ver detalhes abaixo) somente dois ocupantes podem ser transportados internamente (um motorista e um acompanhante).

Em relação à carga útil, o EB exigiu um mínimo de 1.000 quilos. A carga padrão do LMV era de 800 kg para a versão blindada, mas, com ajustes feitos no sistema de suspensão, foi possível atender às exigências do Exército.

Estação de combate

O LMV está preparado para receber diversas configurações de armas, tanto em estações guarnecidas quanto acionadas remotamente. Tanto uma como a outra pode ser instalada no teto do veículo, onde já existe para própria para esta finalidade. No caso da opção por uma torreta blindada guarnecida, existe uma escotilha que fica exatamente acima do tripulante central do banco traseiro.

Observar a escotilha do atirador (atrás) e o ponto para a instalação de uma estação de armas (exatamente à frente da escotilha).

Para o EB, tanto a estação guarnecida como a remota deverão ser capazes de operar com dois tipos de metralhadora diferentes, intercambiáveis: calibre 7,62×51 mm ou calibre .50 (ponto cinquenta).

Também é exigência do Exército Brasileiro que o veículo tenha capacidade de lançar granadas fumígenas de 40mm. O protótipo que está em Sete Lagoas já teve instalado o lançador de granadas (e foi exibido dessa maneira na LAAD). Porém, quando fizemos o “test drive” do veículo, o lançador havia sido retirado.

Versões

A família do LMV tem crescido com o tempo. Atualmente existem duas versões de chassi: uma mais curta (short wheelbase) e outra mais comprida (long wheelbase). Sobre esses chassis podem ser montadas a carroceria padrão, a carroceria curta, a carroceria estendida, a carroceira de evacuação médica (MedVac) ou o modelo aberto, tipo “forças especiais”. A versão escolhida pelo EB é a de chassi curto com carroceria padrão.

Versão padrão
Versão cabine estendida
versão cabine curta
LMV2 (alto esquerda), versão ambulância (alto direita) e forças especiais (embaixo centro)

Em combate

O LMV nasceu numa época onde a necessidade de veículos leves e blindados era urgente. Ele havia sido projetado exatamente para o tipo de conflito assimétrico que emergiu no começo do século XXI e perdura até hoje. Do Afeganistão ao Mali, passando pela Síria, o LMV já serviu em diversas zonas de guerra e continuará a dar sua contribuição por anos e anos.

Diversas são as histórias de casos reais onde vidas foram salvas. Mas como todo equipamento militar, o LMV tem suas limitações e nem sempre é possível salvá-las. Contar uma a uma todas essas histórias seria uma tarefa entediante, além de fugir aos propósitos do texto. Abaixo são relatados alguns casos envolvendo veículos LMV do exército Espanhol e do Exército Italiano no Afeganistão.

No Exército Espanhol – Em junho de 2011 dois veículos LMV do Exército Espanhol foram atingidos por IED no Afeganistão, em ocasiões distintas. Na primeira delas, ocorrida no dia 18, o LMV era guarnecido por quatro militares espanhóis e um intérprete local. Todos sofreram ferimentos e dois tiveram uma das pernas amputada. A carga do artefato foi estimada em 20 kg, bem superior ao limite de 6 kg estabelecido no projeto do veículo.

No segundo ataque, no dia 26 do mesmo mês, um IED instalado na lateral da estrada atingiu um LMV, guarnecido por cinco ocupantes. Dois soldados morreram e os outros três escaparam com ferimentos. Neste caso, o artefato possuía uma carga explosiva cerca de dez vezes superior ao projetado para o veículo suportar. Não é preciso dizer que, se a guarnição espanhola estivesse a bordo de um veículo VAMTAC (veículo muito parecido com o Humvee, mas de projeto e fabricação espanhola) possivelmente o resultado fosse mais negativo.

Nas duas fotos acima o primeiro caso de vítima fatal de um soldado italiano a bordo de um LMV no Afeganistão. O evento ocorreu em 14 de julho de 2009. Mais detalhes no texto abaixo.

No Exército Italiano – Do lado italiano, pelo menos duas dezenas de ataques contra os “Lince” foram reportados. Destes, dois chamam a atenção. Após mais de uma dezena de ataques contra LMV italianos no Afeganistão (desde o ano de 2007) o primeiro caso de vítima fatal ocorreu em 14 de julho de 2009. Um comboio seguia para Ganjabad, cerca de 40 km a nordeste de Farah, quando um IED explodiu abaixo do LMV. A explosão matou instantemente o cabo Alessandro Di Lisio e feriu os outros ocupantes. As imagens acima mostram a violência da explosão.

O mais violento de todos os ataques aconteceu quando dois LMV do 186º Reggimento della Brigata Folgore (brigada aerotransportada), em missão de escolta na estrada para o aeroporto de Kabul, foram atacados por um carro bomba contendo nada menos do que 150 kg de explosivos. O “Lince” da frente foi atingido em cheio e seus cinco ocupantes morreram instantaneamente. No veículo de trás, o motorista morreu e os outros quatro ocupantes ficaram feridos. Com esta carga de explosivo nem mesmo um MRAP resistiria.

No atentado com um caminhão bomba onde dois LMV italianos foram atingidos (sendo que um deles foi completamente destruído) nem mesmo um MRAP resistiria ao poder de 150 kg de explosivo. Na foto acima o LMV que vinha atrás, cujo motorista faleceu.

Para ler os textos anteriores clique nos links abaixo

Nos textos seguintes o “Forças Terrestres” trará mais informações sobre o projeto do LMV.

O editor Guilherme Poggio viajou a Sete Lagoas a convite da IVECO/CNH.

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Zygmunt-toni
Zygmunt-toni
4 anos atrás

150kg de explosivos acho que nem um abrams aguenta haha

Mauricio R.
Reply to  Zygmunt-toni
4 anos atrás

Qndo da intervenção soviética, eram comuns armadilhas com minas AT, turbinadas com uma carga paralela de uns 50 kg de tnt, em um buraco calçado de pedras.
Para focar a explosão.
Arrancava a torre de MBTs T-55 e T-62.

Tomcat4.0
Tomcat4.0
4 anos atrás

Nenhum MBT ou veículo blindado 4×4, 6×6 ou 8×8 faz milagre, 150 kg de explosivo é apelação, coisa pra desintegrar o alvo.

João Augusto
João Augusto
4 anos atrás

A verdade é que em ambientes com esse nível de beligerância os envolvidos vão com a real possibilidade de morte, não sendo possível garantir a integridade dos combatentes. Isso escancara a tragédia das guerras, tradicionais ou assimétricas, e a dramática necessidade de ponderar o preço da vida dos envolvidos em uma equação custo-benefício. O ideal mesmo é não se envolver, inclusive em missões de paz com TO mais quente. O primeiro passo, a proibição constitucional às guerras “ofensivas” (por falta de expressão melhor), foi dado, autorizando-se a declaração apenas no caso de agressão estrangeira. Falta o segundo: a elevação dos… Read more »

Willber Rodrigues
Willber Rodrigues
4 anos atrás

É….150 kilos de explosivo detonando bem na sua frente. Aí não tem milagre que dê jeito.
Acho que um MBT Challenger ou Merkava aguentaria isso.
Por outro lado, isso mostra a excelência do projeto. Com excessão de casos pontuais, onde houve uma explosão maior do que o veículo foi projetado pra aguentar, muitas vidas foram salvas graças a esse veículo.