O crescimento do tráfico de drogas e a violência no México devem se tornar temas prioritários na relação do novo governo americano com seu vizinho e fazer com que parte dos recursos normalmente destinados ao combate de drogas na Colômbia – principal parceiro dos Estados Unidos na região – tenham agora um novo destino, assinalam especialistas nos dois países. Ainda assim, a crise econômica pode atrapalhar os planos em relação a esses dois aliados dos EUA.

– O México precisa reconhecer que apesar da deferência de Obama, de ter se reunido antes de todo mundo com o presidente (Felipe) Calderón, não está na lista de maiores urgências do novo governo – comentou o analista de relações internacionais Gabriel Guerra.

De concreto, o encontro de Calderón e Obama, uma semana antes da posse do presidente americano, explicitou as diferenças com respeito ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), que os países mantêm desde 1994 e que acentuou a integração econômica do México aos Estados Unidos. Durante a campanha eleitoral, Obama pleiteou a necessidade de renegociar o Nafta, para proteger os trabalhadores americanos. No encontro com Calderón, ele manteve a posição, à qual o México se opõe.

O outro grande tema pelo qual México lutou nos últimos anos, a aprovação de uma reforma migratória nos EUA, que permita a 7 milhões de imigrantes ilegais saírem da sombra, também parece complicado. Guerra não está otimista, pois em meio à crise “não seria o melhor momento para discutir isso”.

É na luta contra o tráfico de drogas que há maiores possibilidades de colaboração a curto prazo, porque é do interesse dos EUA ter maior controle sobre suas fronteiras. Funcionários de alto escalão do Pentágono demonstram extrema preocupação com o clima de violência no México e com os sequestros e assassinatos que se multiplicam na fronteira, reiterando a necessidade de os dois governos trabalharem juntos.

– À medida que essa preocupação com a segurança nacional se traduza em medidas que ajudem ao México a controlar a entrada de armas e dinheiro do narcotráfico, todos sairemos ganhando – explicou Guerra.

Para Obama, Plano Colômbia deve ser modernizado

A situação dramática no México pode levar os EUA a transferirem recursos, hoje destinados ao Plano Colômbia, para lá, destacam especialistas. Há dez anos Bogotá goza de uma relação privilegiada com Washington, graças a uma confluência de interesses e desafios geoestratégicos. Particularmente o tráfico de drogas. O país já recebeu mais de US$6,5 bilhões através do Plano Colômbia, o que o transforma no terceiro maior receptor ajuda dos EUA, depois de Egito e Israel.

Com a chegada de Obama, essa relação continuará sendo próxima, apesar da aparente distância ideológica dele com a direita de Álvaro Uribe. Haverá algumas mudanças de tom – mais ênfase em direitos humanos – e cortes de ajuda, enquanto temas centrais da relação, como o Tratado de Livre Comércio, permanecerão no limbo a curto e médio prazos.

A Colômbia continuará sendo o “aliado incondicional”. Obama prometeu continuar com o Plano Colômbia e respaldar a luta contra os grupos armados. Como a Colômbia exporta mais de 80% da cocaína consumida nos EUA, os fundos para controlar essa oferta continuarão fluindo.

Adam Isacson, do Centro para a Política Internacional, no entanto, prevê uma redução considerável – de 40% – nos próximos anos, por duas razões. Primeiro, porque o orçamento americano para algo que não seja a crise econômica e as guerras estará muito limitado. Segundo, devido à dramática situação no México, que deverá levar à transferência de recursos para o combate ao narcotráfico lá.

Relatórios indicam que as áreas cultivadas para a produção de drogas não foram reduzidas, e o próprio Obama afirma que é preciso atualizar o Plano Colômbia.

Se durante o ano passado a campanha eleitoral nos EUA foi o principal obstáculo à aprovação do Tratado de Livre Comércio, em 2009 será a crise econômica. Com milhares de empregos se evaporando, o ambiente não é favorável a novos tratados – aos quais se atribui a fuga de mão-de-obra a outros países.

Fonte: O Globo Fotos: Secretaría de la Defensa Nacional – militares mexicanos apreendendo drogas

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Roberto
Roberto
15 anos atrás

Com isso as FAAS colombianas estão se tornando modernas tecnologicamente,com o Plano Colômbia.

DaGuerra
DaGuerra
15 anos atrás

Os mais novos aliados dos bolivarianos no “combate às drogas”, após expulsão dos americanos, são os…..RUSSOS!?!?…e no Brasil a CNBB!?!?

Marine
Marine
15 anos atrás

Pois e os militares americanos estacionados em San Diego que costumavam ir a passeio a Tijuana hoje sao proibidos de fazer isso sem autorizacao expressa e individual dos seus comandos…

Sds!

Fábio Mayer
15 anos atrás

Talvez os EUA diminuam o investimento em novos armamentos para a Colômbia, visto que já houve um processo de modernização das FFAA(s) de lá. Provavelmente farão o mesmo com o México.

Já se comprovou que a atuação das FFAA(s) é fundamental no combate ao trafico de drogas, o problema é que o México, como o Brasil, não tem disponibilidade financeira ou muitab vontade política em armar corretamente suas FFAAs.