O sangue na ponta de uma faca é menos vermelho?

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*Bene Barbosa

Dia 14 de dezembro de 2012, um homem invade uma escola primária e consegue atacar 22 crianças. Não, não estamos falando do mais recente e hediondo ataque em uma escola norte-americana. Estamos falando de mais um ataque ocorrido na China. Não, ele não usou uma arma de fogo, usou uma pequena faca que roubou da cozinha de uma senhora que também foi esfaqueada.

Os ataques à escolas primárias na China são extremamente comuns e causam centenas de mortes e mutilações em crianças e adultos. O governo Comunista Chinês decidiu inclusive vetar informações sobre os ataques, para evitar os possíveis copiadores, ou seja, pessoas que resolvem agir da mesma forma. Assim, dificilmente teremos número reais da quantidade de ataques que ocorrem na gigantesca e censurada China.

Ao contrário, os EUA vivem uma democracia que venera a liberdade de imprensa e por isso não existe qualquer freio – e não deve haver mesmo – para noticiar-se esse tipo de ocorrência, que sempre causa comoção no mundo com os vídeos e fotos que são veiculados em milhares de jornais, revistas e canais de televisão.

No Brasil, imediatamente dois tipos de sentimentos aparecem em comentários, debates e reportagens, quase sempre juntos: o antiamericanismo e o desarmamentismo. O discurso de modo simplista e simplório de que o americano é belicista, que os EUA são a cultura das armas, que o cinema vangloria a violência, etc. E, claro, num tom professoral, que os EUA deveriam restringir a compra de armas de fogo pela população, em detrimento da chamada Segunda Emenda.

O mais interessante é que esses doutos especialista brasileiros moram em um país onde o desarmamento vem sendo implantado desde 1997. Em um país onde o porte – legal – de armas é proibido, onde a compra de um reles .22 tem tamanha burocracia e custos que inviabiliza a aquisição para 99% da população. Ou seja, um país desarmado, mas em que se mata 55 mil brasileiros por ano! Onde 45% dos jovens que não morrem por causas naturais são assassinados.

Os EUA possuem 5 vezes menos homicídios que o Brasil. Connecticut teve, em todo o ano de 2010, menos de 150 assassinatos, e a pequena cidade de Newton, onde ocorreu o massacre, tem em média dezesseis crimes violentos por ano, e apenas um homicídio!

Qual o motivo destes “especialistas” que culpam as armas, o belicismo, o cinema ou o próprio capitalismo não se manifestarem tão veementemente sobre as mais de cem crianças mortas a facadas, machadadas ou marretadas na China, só em 2010?

Será que o sangue inocente de uma criança chinesa no gume de uma faca é menos vermelho que o sangue de uma criança norte-americana no chão de uma escola? A verdade é que o que define o horror e que “alguma coisa precisa ser feita” é a ideologia cega e burra dos especialistas de plantão.

*Bene Barbosa é bacharel em direito, especialista em segurança pública e presidente da ONG Movimento Viva Brasil

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Bosco Jr
Bosco Jr
11 anos atrás

Nos EUA existem duas figuras singulares: o serial killer e o “vingador escolar” (esse termo é meu, rsrss). Os dois são sociopatas e são pouco comuns num universo de 300 milhões de cidadãos. No Brasil, a maioria absoluta dos 55 mil assassinatos são perpetrados pelo cidadão comum. Fechada de trânsito (crime grave no Brasil, diga-se de passagem, onde o agente pode pagar com a vida), resistência à prisão (rsrs), testemunha ocular, acerto de contas de gangs, queima de arquivo, marido que esfaqueia a mulher, briga de vizinho, briga de boteco, brica na boate, etc, tudo é motivo pra brasileiro passar… Read more »

Observador
Observador
11 anos atrás

Um pouco fora de foco (mas nem tanto!)… Não é apenas o problema dos ataques a faca em escolas que a China esconde: também não são raros os atentados a faca contra estrangeiros. Aparentemente, por lá é uma forma de protesto o assassinato aleatório do primeiro estrangeiro com que se cruze na rua. Houve em 2008 aquele caso famoso contra um americano (morto a facadas). Mas até mesmo um brasileiro que estava lá a negócios sofreu mais recentemente um ataque a faca. Só não se feriu gravemente porque era muito maior e mais jovem que o agressor e houve rápida… Read more »